domingo, 10 de fevereiro de 2008

O Nome de Deus

Pastoreava Moisés os rebanhos de seu sogro, Jetro, sacerdote em Madiã, no monte Horeb, também conhecido por Monte Sinai (cf. 2Cr 5, 10), e eis que se depara com o fenómeno de um fogo misterioso.

Impelido tanto pelo espanto como pela curiosidade, aproxima-se daquele fogo, mas é detido pela voz de Deus que saía do meio daquela sarça ardente, ordenando-lhe que parasse, que não se aproximasse, pois encontrava-se num espaço sagrado porque Deus ali se fizera presente, dizendo-lhe ainda que, por isso, por respeito, descalçasse as sandálias.

Estabeleceu-se então um colóquio, no decorrer do qual Moisés foi instruído para uma missão, a de voltar ao Egipto para libertar o Povo de Deus. Depois de muito se debater, entendeu Moisés que, para a levar cabo, precisaria de apresentar aos anciãos como que uma prova de que fora o próprio Deus, o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacob quem lhes falava (cf. Ex 3,6), e colocou a Deus a seguinte questão: «Eis que eu vou ter com os filhos de Israel e lhes digo: ‘O Deus dos vossos pais enviou-me a vós’. Eles dir-me-ão: ‘Qual é o nome dele?’ Que lhes direi eu?» (Ex 3,13), e obteve como resposta: «Eu Sou» (YHWH). «EU SOU AQUELE QUE SOU» (cf. Ex 3,14).

Se misterioso era o Nome de Deus, misterioso se manteve, pois, a resposta que Moisés obtivera levaria a que Seu Nome fosse impronunciável. Vários nomes foram dados ao Deus de Israel, sem que na verdade se tratasse de nomes, mas de atributos ou qualidades de Deus.

Eis apenas alguns desses nomes ou títulos: Shaddai, Elyon, Adonai, Yahweh, Elohi, Emanuel.

Se alguém quiser dissertar sobre o Nome de Deus, tem que se cingir ao designado Tetragrama Sagrado, YHWH, que também se pode encontrar de outras formas como JHVH, JHWH, ou YHVH. E não existe nenhum outro nome a não ser este que jamais alguém conseguiu pronunciar.

Na sua origem, o Tetragrama (quatro letras), escrito em hebraico e da direita para a esquerda, ao contrário da nossa escrita, era composto pelas seguintes consoantes: ה ו ה י Estas consoantes pronunciam-se: י = Iod, ה = Hêi, ו = Vav, ה = Hêi.

Um nome composto por quatro consoantes, era, pois, e continua a ser, impronunciável. Mais tarde, no decorrer da própria evolução da língua hebraica, foram-lhe introduzidas vogais, podendo então dizer-se YaHWeH (Javé), ou YeHoWaH (Jeová), mas isto nada veio alterar, uma vez que se trata apenas da forma de pronunciar estas consoantes... Nos textos sagrados, para evitar a referência a «Eu Sou», ou, «Aquele que É», passou a dizer-se simplesmente O Senhor, Deus. Portanto, vemos claramente que nunca se tratou nem pode tratar-se do Nome de Deus, porque em parte alguma da Bíblia vemos que Ele o tenha revelado.

Se ocorre pensar que o povo de Israel, os Hebreus, “deram a conhecer” um Deus inacessivel, questionemo-nos se não seremos nós os cristãos quem já perdeu todo o respeito por Ele, mesmo depois de se tornar tão humana e divinamente acessível com a descida à humanidade de Jesus, que veio trazer-nos um outro entendimento de Deus, um só Deus em três Pessoas, Pai, Filho, e Espírito Santo.

Saiba cada um de nós mergulhar tão confiadamente nas profundezas do Amor que por nós sente o Senhor (palavra sempre utilizada nas Escrituras em substituição do Tetragrama), que sintamos a necessidade de O tratar por Abba (Pai, ou Paizinho − Rm 8,15).