sábado, 13 de fevereiro de 2010

S. Valentim - O pretexto para se festejar "um santo" que o comércio "abençoa".

Não deixa de ser curioso que seja uma cultura pagã quem mais evoca um Santo da Igreja Católica. Crentes ou ateus, todos "celebram" o dia 14 de Fevereiro como o dia de S. Valentim, ou dia dos namorados. Mas o que é que na verdade é celebrado? Para uma sociedade pagã, consumista, importa contar uma história que se adapte às suas conveniências, ainda que muito se fantasie, se invente, enfim, se crie uma história que muito pouco tem a ver com a realidade.

O que há de comum neste dia 14 de Fevereiro, é haver dois Santos com o nome de Valentim, criando-se uma lenda que mistura factos da vida dos dois, cuja história não está, aliás, perfeitamente esclarecida, fantasiando de forma a dar ao povinho uma história bem ao jeito das novelas, onde não podia faltar, como é óbvio, algo de romance (o que encontramos em alguns textos sobre S. Valentim). É, como nem podia deixar de ser, o que fica bem para uma “celebração comercial”.

Para não enfileirarmos nesse grupo que aceita tudo o que lhe é apresentado com todas as técnicas de markting, importa que saibamos o que nos dizem os livros aprovados pela Igreja sobre S. Valentim.

Dizem os hagiógrafos que, o primeiro, era sacerdote romano que fora preso no reinado do imperador Cláudio o Gótico. Tendo comparecido diante do imperador, confessou abertamente a sua fé e, interrogado sobre o que pensava de Júpiter e de Mercúrio, declarou que não passavam de personagens impudicas e desprezíveis.

Foi por isso de seguida entregue a um magistrado, de nome Astério, cuja filha adoptiva era cega. Curando-a, o sacerdote Valentim conseguiu dessa forma a conversão de Astério e toda a família. Ao ter conhecimento do facto, o imperador ordenou que o sacerdote fosse açoitado, quase até à morte, sendo de seguida decapitado na Via Flamínia, no ano 270.

Em honra deste mártir, mandou o papa Júlio I construir uma igreja no séc. IV, vindo a ser restaurada pelo papa Honório I no séc. VII, tornando-se depois disso um centro de peregrinações muito frequentado.

S. Valentim passou a ser evocado como padroeiro dos noivos e dos jovens que, ainda não sendo noivos, pensam em casar. Parece dever-se isto ao facto de o Santo, em épocas em que o seu culto esteve mais popularizado, ser festejado tradicionalmente nos países saxónicos (territórios que hoje compõem a Alemanha) na época em que os pássaros costumavam fazer seus ninhos e por isso, terá passado a ser considerado o padroeiro dos enamorados e noivos. É ainda invocado de modo especial para a cura da epilepsia, peste e desmaio.

O segundo S. Valentim foi prelado da Sé de Térni, na Úmbria (região no centro da Itália), desde o ano de 223. Informado das suas virtudes e milagres, um filósofo romano, chamado Crato, pediu que lhe fosse curar o filho, atacado de mal sem remédio. O bispo foi a Roma e prometeu que faria o que dele se esperava, desde que o pai e restante família se convertessem. A condição foi aceite e cumprida; e até se excedeu o prometido, pois renunciaram aos deuses e abraçaram a fé cristã três jovens atenienses, discípulos de Crato, ao verem que pelos seus deuses jamais obteriam a cura operada através do bispo Valentim. Quando o prefeito Abúndio soube o que se tinha passado, mandou decapitar o bispo. O seu corpo foi em seguida levado para Térni por alguns atenienses convertidos. S. Valentim é ainda hoje honrado como patrono da cidade.

Quão triste não se sentirá nesta data o Santo, ao ver o seu nome evocado em todo o mundo por razões que nada têm a ver com religião, e muito menos com qualquer apelo à santidade.