quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

DEIXEMOS QUE OS EXEMPLOS FALEM

A Marta, nos seus felizes doze anos, um dia resolveu convidar a sua colega e amiga Inês para com ela passar o fim-de-semana.

Com o entusiasmo característico da idade, uma e outra obtiveram o consentimento dos pais, para algo que viria a ter efeitos muito para além da simples experiência.

Contrariamente a outros pais que em situação idêntica adoptariam uma atitude do género: “elas que se entendam”, os pais da Marta não se furtaram às tarefas necessárias para lhes proporcionarem o mais agradável convívio. Pela via do serviço, associaram-se a elas de uma forma que, embora simples e natural para eles, viria a pesar positivamente em casa da Inês.

Para esta, a experiência ultrapassou todas as expectativas, pois, não esperava ser rodeada do que considerou serem tantas atenções, que chegaram ao ponto de lhe ser servido o pequeno-almoço na cama. Aquela forma de acolhimento, não constituiu qualquer tipo de cuidado acrescido para a família que a recebeu, dado acontecer por vezes entre cada um dos seus membros, disputarem a oportunidade de servirem o outro, em perfeita reciprocidade.

Para a Marta e a Ana, sua irmã mais velha, não é necessário que os pais se preocupem com ensinamentos dos valores que há algum tempo a sociedade tem vindo a pôr de lado, dado que a mais elevada forma de transmissão desses valores está implícita na sua prática de vida.

Num primeiro balanço, em comentário com a amiga, a Inês teve dificuldade em encontrar as palavras que melhor definissem o que para ela tinha sido aquele fim-de-semana. Ele foi tão positivo que levou a que sua mãe se dirigisse a quem tão bem a tratou, não apenas para agradecer pelo facto em si, mas também por o mesmo a ter despertado para uma visão mais real de alguns pontos que estaria a descurar no crescimento da filha.

Há nesta história um aspecto curioso: estas duas mães são professoras, e como que ao jeito de matéria escolar, ambas nos deixam duas grandes lições: a primeira, a mãe da Marta, chama-nos a atenção para algo que constitui o ponto de equilíbrio a partir do qual devemos educar os nossos filhos. Desta lição que a mãe da Marta nos deixa, podemos concluir que, quanto ao que damos e ao que deveríamos dar aos nossos filhos, o mais certo é estarmos a dar-lhes o que apenas lhes serve para estarem a entrar no deserto, e, por falta de tempo, de uma carreira profissional ou qualquer outra razão, não lhes damos o amor na sua forma mais simples.

É mais fácil dar-lhes aquilo que para nosso comodismo dizemos ser natural nos dias de hoje, como sendo por exemplo a liberdade ou permissão de irem aqui e ali, os ténis ou qualquer outra coisa de marca, do que dar-lhes tudo ou apenas aquilo que os levará a serem uns adultos sempre e em tudo positivos.

Há tantos, tantos aspectos a corrigirmos. Cabe a cada um, um exame de si próprio para, depois de encontrados os erros, nos decidirmos a aceitar o sacrifício que implica ser pais com nota elevada.

Passando, para terminar, à segunda e curta lição:

Quanto mais elevado é o grau do mestre, tanto maior terá que ser o valor que o aluno dá ás suas lições. Assim, saibamos ser alunos à altura desta lição que nos deixa a mãe da Inês, que, sendo professora universitária, teve naturalidade e humildade quanto baste, para reconhecer que havia aspectos a corrigir no seu papel de mãe.

Se alguém quiser ver a sua grandeza, não atenda aos títulos ou posição, olhe antes para os seus feitos.

SANTOS, Jose Augusto, Duas Grandes Lições. In, Notícias de Chaves, nº. 2468 (24.04.1998).

terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

O HÁBITO FOI A SUA ARMADURA

Depois de já ter passado pelas fases antecedentes, encontrava-me à porta do RX, a aguardar que a minha vizinha, que acompanhei ao Hospital de Santa Maria, fosse chamada. Na mesma situação, a aguardar na sala de espera como acompanhante, encontrava-se uma jovem Dominicana, com a qual procurei meter conversa.

Sem deixar de me dar atenção, não tirava o olhar do canto oposto da sala, passando, por dever de educação, a explicar-me o motivo pelo qual mantinha centrada a sua atenção lá no canto mais distante: procurava assegurar-se que a jovem com quem ela interviera, repreendendo-a, se mantinha junto de sua mãe, que se encontrava numa maca com a cabeça ferida e a necessitar dos cuidados da filha enquanto não era chamada para os exames seguintes, cuidados como o de lhe ir mantendo na cabeça algo que o médico recomendara.

A Irmã Filipa Alexandra, no meio de toda aquela gente que se encontrava na sala, não se distinguiu apenas por trajar um hábito religioso. Enquanto uns meneavam a cabeça e outros cochichavam com quem estava ao lado, censurando o desprezo da jovem pela sua mãe que, sofrendo, reclamava em vão os seus cuidados, a Irmã Filipa concertou o elo partido.

Dizia-me que, consciente do risco, admitiu a possibilidade de ser mal sucedida, podendo mesmo ser hostilizada pela jovem. Mas a decidida freira, digna herdeira do carácter espiritual da sua fundadora, a heroína Madre Teresa de Saldanha, confiou na armadura que o simples hábito religioso poderia constituir naquele momento.

Foi essa armadura, para o mundo a melhor identificação de que quem com ela se reveste é pessoa consagrada a Cristo e à Sua Igreja, que a encorajou a pensar que não seria desobedecida nem mal tratada pela jovem (que me pareceu ser já adulta). E de facto, o erro desta, cedeu perante a determinação e a autoridade de quem ousa agir segundo o impulso do Espírito.

Pudéssemos muitas vezes encontrar pelos caminhos do mundo os consagrados e as consagradas identificados como tal, e a sua simples presença, independentemente do quão próximo ou afastado da santidade possa estar cada um, constituiria não só uma barreira às tendências do mal, mas ao mesmo tempo um conforto e um estímulo para quantos possam inclinar-se para o bem.

A vós, homens e mulheres consagrados, que o Espírito d’Aquele que um dia vos chamou para a Messe ilumine as vossas inteligências e perfume o vosso coração, de modo a sentirdes-vos chamas vivas do Espírito Santo que em cada um deseja encontrar a disposição necessária para que, por todos os meios, possais ser um Sinal visível da Sua presença no meio dos homens.

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P. S. - Depois de escrever este último parágrafo e ter editado o texto, vejo que neste mesmo dia a Santa Sé anunciou a realização de um consistório na manhã do próximo dia 23, para a canonização de cinco Consagrados, quatro presbíteros e uma religiosa...

sábado, 17 de fevereiro de 2007

Falando de um susto a um amigo pelo Messenger…

História verídica ou ficcionada, que uma amiga me enviou por e-mail, não deixa de ter importância que a todos preocupe, neste mundo da Internet, razão pela qual aqui vo-la apresento:

«Após deixar os livros no sofá ela decidiu lanchar e entrar on line. Assim, ligou-se com o seu nome de código (nick): Docinho14. Procurou na sua lista de amigos e viu que Meteoro123 estava ligado. Enviou-lhe uma mensagem instantânea:

Docinho14: Oix. Que sorte estares aí! Pensei que alguém me seguia na ruahoje. Foi mesmo esquisito!

Meteoro123: Lol. Vês muita TV. Por que razão alguém te seguiria? Não morasnum local seguro da cidade?

Docinho14 ; Com certeza. Lol. Acho que imaginei isso porque não vi ninguémquando me virei.

Meteoro123: A menos que tenhas dado o teu nome on line. Não fizeste isso,pois não?

Docinho14: Claro que não. Não sou idiota, já sabes.

Meteoro123: Jogaste vólei depois das aulas, hoje?

Docinho14: Sim e ganhamos!

Meteoro123: Óptimo! Contra quem?

Docinho14: Contra as Vespas do Colégio da Sagrada Família. LOL. Os uniformes delas são um nojo! Pareciam abelhas. LOL

Meteoro123 : Como se chama a tua equipa?

Docinho14: Somos os Gatos de Botas. Temos garras de tigres nos uniformes.São impecáveis.

Meteoro123: Jogas ao ataque?

Docinho14: Não, jogo à defesa. Olha: tenho que ir.
Tenho que fazer os TPC antes que cheguem os meus pais. . Xau!

Meteoro123: Falamos mais tarde. Xau.

Entretanto, Meteoro123 foi à lista de contactos e começou a pesquisar sobre o perfil dela. Quando apareceu, copiou-o e imprimiu-o. Pegou na caneta e anotou o que sabia de Docinho14 até agora.
Seu nome: Susana
Aniversário: Janeiro 3, 1993.
Idade.: 14.
Cidade onde vive: Porto.
Passatempos: vólei , inglês, natação e passear pelas lojas.

Além desta informação sabia que vivia no centro da cidade porque lho tinha contado recentemente. Sabia que estava sózinha até às 18.30 todas as tardes até que os pais voltassem do trabalho. Sabia que jogava vólei às quintas-feiras de tarde com a equipa do colégio, os Gatos de Botas. O seu número favorito, o 4, estava estampado na sua camisola. Sabia que estava no oitavo ano no colégio da Imaculada Conceição. Ela tinha contado tudo em conversas on line. Agora tinha informação suficiente para encontrá-la.

Susana não contou aos pais sobre o incidente ao voltar do parque. Não queria que ralhassem com ela e a impedissem de voltar dos jogos de vólei a pé. Os pais sempre exageram e os seus eram os piores. Ela teria gostado não ser filha única. Talvez se tivesse irmãos, os seus pais não tivessem sido tão superprotectores. Na quinta-feira, Susana já se tinha esquecido que alguém a seguira.

O seu jogo decorria quando, de repente, sentiu que alguém a observava. Então lembrou-se. Olhou e viu um homem que a observava de perto. Estava inclinado contra a cerca na arquibancada e sorriu quando o viu. Não parecia alguém de quem temer e rapidamente desapareceu o medo que sentira. Depois do jogo, ele sentou-se num dos bancos enquanto ela falava com o treinador. Ela apercebeu-se do seu sorriso mais uma vez quando passou ao lado. Ele acenou com a cabeça e ela devolveu-lhe o sorriso. Ele confirmou o seu nome nas costas da camisola. Sabia que a tinha encontrado.

Silenciosamente, caminhou a uma certa distância atrás dela. Eram só uns quarteirões até casa dela. Quando viu onde morava voltou ao parque e entrou no carro. Agora tinha que esperar. Decidiu comer algo até que chegou a hora de ir à casa da menina. Foi a um café e sentou-se.

Mais tarde, essa noite, Susana ouviu vozes na sala. 'Susana, vem cá!', chamou o seu pai. Parecia perturbado e ela não imaginava porquê. Entrou na sala e viu o homem do parque no sofá. 'Senta-te aí', disse-lhe o pai, 'este senhor acaba de nos contar uma história muito interessante sobre ti'.

Susana sentou-se. Como poderia ele contar-lhes qualquer coisa? Nunca o tinha visto senão nesse mesmo dia!

'Sabes quem sou eu?' perguntou o homem.

'Não', respondeu Susana.

'Sou polícia e teu amigo do Messenger - Meteoro123'.

Susana ficou pasmada. 'É impossível! Meteoro123 é um rapaz da minha idade! Tem 14 e mora em Braga!'.

O homem sorriu. 'Sei que te disse tudo isso, mas não era verdade. Repara, Susana, há gente na Internet que se faz passar por miúdos; eu era um deles. Mas enquanto alguns o fazem para molestar crianças e jovens, eu sou de um grupo de pais que o faz para proteger as crianças dos malfeitores. Vim para te ensinar que é muito perigoso falar on line. Contaste-me o suficiente sobre ti para eu te achar facilmente. Deste-me o nome da tua escola, da tua equipa e a posição em que jogas. O número e o teu nome na camisola fizeram com que te encontrasse facilmente.

Susana gelou. 'Quer dizer que não mora em Braga?'.

Ele riu-se: 'Não, moro no Porto. Sentiste-te segura achando que morava longe, não é?'' Tenho um amigo cuja filha não teve tanta sorte: foi assassinada enquanto estava sozinha em casa. Ensinam-se as crianças e jovens a não dizer a ninguém quando estão sozinhos, porém contam isso a toda a gente pela internet. As pessoas maldosas enganam e fazem-se passar por outras para tirar informação de aqui e de lá on line. Antes de dares por isso, já lhes contaste o suficiente para que te possam achar sem que te apercebas. Espero que tenhas aprendido uma lição disto e que não o faças de novo. Conta aos outros sobre isto para que também possamestar seguros'.

'Prometo que vou contar!'.»

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

VINHA DE RAQUEL - Um encontro com a Misericórdia de Deus

Há já algum tempo que tenho vindo a acompanhar, como Psicóloga, os Retiros da Vinha de Raquel. É nessa qualidade que me pediram para escrever sobre os Retiros. Mas ser técnica não faz de mim menos pessoa nem menos pecadora, por isso é nessa qualidade que eu escrevo. Em cada Retiro assistimos a verdadeiros milagres de conversão e também nós percorremos o caminho, partilhando a dor e a alegria, sustentando o sofrimento com o nosso consolo e o nosso abraço, entregando o desespero com as nossas próprias lágrimas. Santa Teresa de Ávila dizía a Jesus “Na terra não tendes outro corpo senão o nosso, não tendes outros pés senão os nossos, não tendes outras mãos senão as nossas. Os nossos olhos revelam a Vossa misericórdia para com o mundo, os nossos pés levam-Vos a fazer o bem. É com as nossas mãos que, doravante, podeis abençoar” e não vejo que se possa descrever melhor aquilo a que somos chamados na Vinha de Raquel.

Porque é que uma mulher ou um homem vivem trinta, quarenta ou mais anos amargurados e angustiados com o peso da culpa de alguma coisa que fizeram e que na altura lhes parecía ser o mais correcto? Eu penso que isto se deve, não apenas à lesão da própria natureza relacional da pessoa, mas, mais ainda, ao desejo de Deus a receber de volta. Neste sentido, a culpa é boa porque é o sinal de inversão de marcha que nos permite retomar o caminho da salvação. Assim, o primeiro passo do Retiro é reconhecer a culpa, a responsabilidade, enfrentar a irreversibilidade do acto, tendo sempre presente a Misericórdia de Deus. Enfrentar o desespero com os olhos postos na Esperança.

O segundo passo é o resolver de conflitos que inquietam o coração, o perdoar a alguém. Verbalizar a raiva que mina por dentro, libertar-nos da zanga contra quem nos fez mal, é por vezes tão doloroso, que não o conseguimos fazer sem ajuda. Trorna-se quase mais fácil pedir perdão do que perdoar. Mas um coração que não consegue perdoar, também não encontra espaço para acolher o perdão. É verdadeiramente um exercício de arrumar a casa, limpar o pó, deitar fora o lixo, tirar as manchas das paredes, e finalmente prepará-la para receber algo que a vai encher de novo e dar-lhe uma nova vida. Um exercício que nos esgota fisica e psicologicamente, mas que nos faz desejar ardentemente acolher a própria fonte da vida.

No terceiro passo tratamos de refazer ligações. Quando uma mulher dá à luz uma criança, ela é a ligação fisica da criança com o mundo. Quando um aborto ocorre, a criança é a ligação espiritual da mulher com Deus. Por isso é tão importante o restabelecer a ligação com o bébé. Ligação essa que a circunstância da morte quase anulou, mas não destruiu. As memórias, dificilmente suportáveis, só podem ser avivadas porque são acompanhadas da compaixão de Cristo. Nesta fase trabalha-se o luto e a perda. Chora-se a morte junto da Cruz enquanto Cristo se entrega por nós.

Finalmente, chegamos ao dia em que encontramos o sepulcro vazio. Os bébés, que entretanto passaram a ser os “nossos bébes”, foram entregues a Cristo, e a certeza da Sua Ressurreição é também a certeza de que eles já gozam da união eterna com Deus e que na companhia dos Anjos e dos Santos intercedem por nós. É nesta altura que temos a certeza que estas crianças olham as mães e os pais, não com desejo de vingança ou castigo, mas com o coração de Deus, desejoso que o Seu perdão seja acolhido.

Depois de um caminho doloroso, muito doloroso, que até parecia ser impossível, dá-se o encontro com Cristo Ressuscitado que nos mostra as suas feridas ao mesmo tempo que nos dá a Sua paz. Sinal paradoxal este, no entanto bem real! Cristo mostra-nos que a Sua paz não se alcança através de um mero exercício psicológico ou de um esforço de esquecimento ou abstracção da realidade, mas é o fruto do Seu próprio sofrimento e da Sua morte na cruz. Não se encontra negando a dor, mas antes enfrentando-a com coragem e honestidade e entregando-a na Cruz.

Temos sempre bem claro que a graça de Deus, ainda que através da nossa intervenção, age muito para além das nossas expectativas e por isso, nos confiamos a Maria, Mãe Consoladora, pedindo-lhe que nos ensine a responder a Deus como ela fez: entregando-se ela acolheu Deus, e porque O recebeu, entregou-O.


Maria José Vilaça


* * *

Como falar da Vinha de Raquel:
“Ouvi falar do aborto de uma forma diferente. Estes falam de cura! É um projecto chamado Vinha de Raquel.. Dizem que é para quem vive atormentado, angustiado, sem esperança e afastado de Deus…”

Como nos pode ajudar?
Donativos A Vinha de Raquel vive de donativos. Cada Retiro mobiliza perto de 60 pessoas, desde os adoradores às pessoas que organizam a logistica e acompanham o Retiro (temos sempre um Padre, um Psicólogo, um coordenador e alguns monitores). Embora todos sejam voluntários, precisamos de cobrir as despesas do Retiro e de divulgação. No início deste ano, quando verificámos que não tinhamos dinheiro para fazer mais nenhum Retiro, Cina Leal, uma amiga do projecto escreveu um livro de poemas chamado “Na Orla do Manto” e ofereceu-nos todo o lucro das vendas. Com isso, fizemos um Retiro e temos ainda dinheiro para o próximo. Acreditamos que Deus continuará a providenciar, semeando a generosidade nos corações de quem entender o objectivo deste trabalho.

Oração:
O nosso sustento é a oração: desde o minuto em que uma pessoa nos contacta expressando o desejo de cura, há uma outra pessoa encarregue de rezar por ela, para que seja ajudada na decisão. Durante o Retiro há um conjunto de pessoas em Adoração permanente no local do Retiro. Vinha de Raquel precisa sempre de voluntários para rezar!

Não sofra em silêncio.
Ninguém esquece um filho que não nasceu - se a sua vida ou a de alguém que conhece, foi tocada pela dor do aborto, a Vinha de Raquel propõe um caminho para recuperar a paz interior. Durante um fim de semana, num ambiente de Retiro, a partir de uma partilha espiritual centrada em Jesus, chegamos ao encontro com a Sua Misericórdia.



Coordenadora em Portugal: Cláudia Müller
Sacerdote: Pe. Fernando Paiva
Psicóloga: Drª Maria José Vilaça
Telm. 917354602.
E-mail: vinha.raquel@email.com
http://www.rachelsvineyard.org/

sábado, 10 de fevereiro de 2007

Muitos anos depois dos aerogramas, escrevo-te novamente umas palavras

Lisboa, 10 de Fevereiro de 2007


Meu querido irmão,

Já perdi a conta aos anos que já passaram sem me dirigir a ti por escrito. Se não me engano, nunca mais o terei feito desde que, juntamente com a mãe, te escrevia duas letrinhas nos aerogramas que recebias no ultramar.

Na altura, o recebermos um aerograma teu e o enviar-te outro, para o qual muitas vezes a mãe me avisava de que estava a escrever-te, convidando-me a dizer-te também qualquer coisa, era para mim um acto religioso, talvez mais sentido interiormente como tal, pela falta de capacidade de expressar pela escrita o amor e a saudade que tinha do meu “Caia”, como dizia quando começava a pronunciar as primeiras palavras. Agora que já sou pai há quase vinte e dois anos, reconstituindo em minha memória tantos momentos de então, vejo com grande clareza a importância, a grandeza e, diria mesmo a qualidade de sentimentos que ocupavas no coração da mãe. Relembrando esses momentos, é com grande emoção que sou obrigado a afirmar: Como a nossa mãe te amava, meu querido irmão!..

No passado Domingo, numa sessão de esclarecimento na minha Paróquia para que ninguém tivesse dúvidas quanto à posição da Igreja relativamente às questões a referendar amanhã, intervindo, agradeci a Deus e aos nossos pais por eu poder estar a falar aos presentes, dado que eu já era o 12º filho, tentando com isso refutar esse conceito tão puramente materialista, do não poder-se hoje ter mais do que um ou dois filhos, por não haver condições...

Que grande legado os nossos queridos pais nos deixaram, quando na sua escala de importância para nós, seu maior desejo sempre foi o de que fossemos bons. Hoje podemos entender quão grande pedagogo e psicólogo, chegando mesmo a brincar com a filosofia, foi nosso querido pai. Mais de vinte anos passados desde que nos deixou, ainda algumas vezes me ocorrem lágrimas pela tão grande saudade do seu ar brincalhão, da sua Sabedoria, do seu sorriso, enfim, do nosso tão amado pai. Bem que nos podemos sentir abençoados pelos pais que tivemos, e entre nós, sentirmos que foram uns pais modelo, segundo os parâmetros cristãos.

Desse grande legado ou riqueza que nos deixaram, faz parte a preocupação que temos uns pelos outros, que não é mais que o fruto do amor que vivemos. Aquelas situações em que nas férias, quando estamos juntos, dificilmente seguimos o que fora anteriormente planeado, porque um de nós ficou impossibilitado e tem que ir a outro lado, acabando por tudo ser modificado, só pode mesmo acontecer numa família como a nossa, porque, embora todos estejamos bem com a família que cada um constituiu, só nos sentimos completos tendo os irmãos connosco. E dado que há anos em que isso apenas é possível por três ou quatro dias, maior é a necessidade que temos uns dos outros, necessidade que passa por manifestações tão simples de amor, como sendo por vezes uma brincadeira ternurenta, o termos que “andar sempre aos beijinhos”, como por vezes dizem alguns cunhados, etc.

Depois de tudo isto, é legítimo que te perguntes do porquê de nem uma visita nem um telefonema, desde que no outro dia soube o que te tinha acontecido.

O telefonema, é para mim pouco válido para estas coisas, porque tenho necessidade de estar mesmo junto da pessoa. E depois também uma outra razão pela qual ainda não o fiz, foi por querer surpreender-te pessoalmente. Mas infelizmente, um dia é uma coisa, outro dia é outra, e o tempo tem passado, até que decidi pôr-me a escrever-te duas palavrinhas, para te dizer que muito te tenho envolvido de amor em oração, meu amado irmão. E ainda que ao mundo possa parecer o contrário, por não te ter ainda visitado, esse amor que nossos pais nos deixaram como herança e que eu procuro alimentar pela prática dos Sacramentos, tem um tal volume em mim, que, só enquanto escrevia este texto, fui obrigado a várias pausas para reparar os diques da emoção, por se revelarem demasiado fracos para suster a força do caudal do amor de irmão para irmão.

Que esta e a verdadeira força do Amor te envolvam, e que de lá do Céu, onde estou certo nossos pais nos estão a amar de uma forma bem diferente, recebas todos os dons necessários para só desejares o Amor.

Teu irmão que tanto te ama, ainda que de uma forma imperfeita,
Zé Augusto

domingo, 4 de fevereiro de 2007

CELEBRAR A VIDA, Quando o Sofrimento é Doação

Clara Badano nasceu em 1971 em Sassello (Itália), filha de Ruggero e Teresa.

Aso nove anos, conheceu outras crianças, que já tinham como objectivo “escolher Deus” como ideal, na sua vida.

À medida que vai crescendo, sobressai nela o olhar límpido e a beleza. Aplica-se-lhe a expressão de S. Agostinho: “o amor torna-nos bonitos”. É uma grande desportista e gosta muito de cantar e dançar, vestindo-se com elegância. É muito exigente com os seus sentimentos. Está sempre rodeada de amigos e amigas.

Aos 17 anos, diante de uma reprovação a Matemática, procura amar o rosto abandonado de Jesus nessa contrariedade. Depois num certo dia, ao jogar ténis, sente uma dor fortíssima nas costas. Algumas recaídas levam a aprofundar os exames médicos e, por fim, chega o diagnóstico: um tumor dos mais graves e dolorosos. Recebe a notícia em silêncio e sem chorar.

No hospital, preocupa-se com os outros e esquece-se do forte sofrimento para ajudar uma rapariga toxicodependente. Depois de duas operações, a quimioterapia faz-lhe cair o cabelo. Diante de cada madeixa de cabelo que perde, repete um intenso: “por ti, Jesus”.

Os pais ajudam-na a intuir que o amor de Deus se esconde nas situações mais incríveis. Ela aceita e coloca-se no amor. Assim, oferece as suas poupanças a um amigo que vai partir para África. A força vem-lhe de Jesus na Eucaristia, que recebe frequentemente e com muita alegria.

Os médicos espantam-se com a sua maturidade. O próprio cardeal de Turim vai visitá-la e pergunta-lhe: “tens uns olhos estupendos, uma luz maravilhosa. De onde te vêm?” Ela responde: “procuro amar muito Jesus”.

As últimas palavras para a mãe foram: “sê feliz, porque eu sou feliz”. Duas mil pessoas participaram no funeral, experimentando uma serenidade e santidade contagiosas, sentindo-se levadas a escolher Deus como o tudo da sua vida.

Ainda hoje, Clara continua a entusiasmar muitos jovens a amarem Jesus como o grande segredo da felicidade…


Texto e imagem tirados do livro O DESAFIO DE VIVER
Ed. do Secretariado Nacional da Educação Cristã, p.50
(o título é meu)