quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

DEIXEMOS QUE OS EXEMPLOS FALEM

A Marta, nos seus felizes doze anos, um dia resolveu convidar a sua colega e amiga Inês para com ela passar o fim-de-semana.

Com o entusiasmo característico da idade, uma e outra obtiveram o consentimento dos pais, para algo que viria a ter efeitos muito para além da simples experiência.

Contrariamente a outros pais que em situação idêntica adoptariam uma atitude do género: “elas que se entendam”, os pais da Marta não se furtaram às tarefas necessárias para lhes proporcionarem o mais agradável convívio. Pela via do serviço, associaram-se a elas de uma forma que, embora simples e natural para eles, viria a pesar positivamente em casa da Inês.

Para esta, a experiência ultrapassou todas as expectativas, pois, não esperava ser rodeada do que considerou serem tantas atenções, que chegaram ao ponto de lhe ser servido o pequeno-almoço na cama. Aquela forma de acolhimento, não constituiu qualquer tipo de cuidado acrescido para a família que a recebeu, dado acontecer por vezes entre cada um dos seus membros, disputarem a oportunidade de servirem o outro, em perfeita reciprocidade.

Para a Marta e a Ana, sua irmã mais velha, não é necessário que os pais se preocupem com ensinamentos dos valores que há algum tempo a sociedade tem vindo a pôr de lado, dado que a mais elevada forma de transmissão desses valores está implícita na sua prática de vida.

Num primeiro balanço, em comentário com a amiga, a Inês teve dificuldade em encontrar as palavras que melhor definissem o que para ela tinha sido aquele fim-de-semana. Ele foi tão positivo que levou a que sua mãe se dirigisse a quem tão bem a tratou, não apenas para agradecer pelo facto em si, mas também por o mesmo a ter despertado para uma visão mais real de alguns pontos que estaria a descurar no crescimento da filha.

Há nesta história um aspecto curioso: estas duas mães são professoras, e como que ao jeito de matéria escolar, ambas nos deixam duas grandes lições: a primeira, a mãe da Marta, chama-nos a atenção para algo que constitui o ponto de equilíbrio a partir do qual devemos educar os nossos filhos. Desta lição que a mãe da Marta nos deixa, podemos concluir que, quanto ao que damos e ao que deveríamos dar aos nossos filhos, o mais certo é estarmos a dar-lhes o que apenas lhes serve para estarem a entrar no deserto, e, por falta de tempo, de uma carreira profissional ou qualquer outra razão, não lhes damos o amor na sua forma mais simples.

É mais fácil dar-lhes aquilo que para nosso comodismo dizemos ser natural nos dias de hoje, como sendo por exemplo a liberdade ou permissão de irem aqui e ali, os ténis ou qualquer outra coisa de marca, do que dar-lhes tudo ou apenas aquilo que os levará a serem uns adultos sempre e em tudo positivos.

Há tantos, tantos aspectos a corrigirmos. Cabe a cada um, um exame de si próprio para, depois de encontrados os erros, nos decidirmos a aceitar o sacrifício que implica ser pais com nota elevada.

Passando, para terminar, à segunda e curta lição:

Quanto mais elevado é o grau do mestre, tanto maior terá que ser o valor que o aluno dá ás suas lições. Assim, saibamos ser alunos à altura desta lição que nos deixa a mãe da Inês, que, sendo professora universitária, teve naturalidade e humildade quanto baste, para reconhecer que havia aspectos a corrigir no seu papel de mãe.

Se alguém quiser ver a sua grandeza, não atenda aos títulos ou posição, olhe antes para os seus feitos.

SANTOS, Jose Augusto, Duas Grandes Lições. In, Notícias de Chaves, nº. 2468 (24.04.1998).

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