segunda-feira, 30 de abril de 2012

A incrível história de Jimmy

Mesmo apesar de me faltarem os elementos que me pudessem ajudar a perceber se esta história é real ou é ficção (não descarto nem uma nem outra possibilidade, apesar de me parecer fantasiada em alguns pontos), aqui a transcrevo tal qual me chegou, por e-mail, pela importãncia da sofrida pergunta a Deus e subsequente resposta. Toda a importãncia reside aí, nessa incontornável questão, que, essa sim, na realidade é completamente Verdadeira.

Ela deu um pulo assim que viu o cirurgião a sair da sala de operações. Perguntou:
-Como é que está o meu filho? Ele vai ficar bom?

- Quando é que eu posso vê-lo?
O cirurgião respondeu:
- Tenho pena. Fizemos tudo mas o seu filho não resistiu.
Sally perguntou:
- Porque razão é que as crianças pequenas tem câncro? Será que Deus não se preocupa?
- Aonde estavas Tu, Deus, quando o meu filho necessitava?
O cirurgião perguntou:
-Quer algum tempo com o seu filho? Uma das enfermeiras irá trazê-lo dentro de alguns minutos e depois será transportado para a Universidade.
Sally pediu à enfermeira para ficar com ela enquanto se despedia do seu filho. Passou os dedos pelo cabelo ruivo do seu filho.
- Quer um cachinho dele?' Perguntou a enfermeira.
Sally abanou a cabeça afirmativamente.
A enfermeira cortou o cabelo e colocou-o num saco de plástico, entregando-o a Sally.
- Foi ideia do Jimmy doar o seu corpo à Universidade porque assim talvez pudesse ajudar outra pessoa, disse Sally. No início eu disse que não, mas o Jimmy respondeu:
- Mãe, eu não vou necessitar do meu corpo depois de morrer. Talvez possa ajudar outro menino a ficar mais um dia com a sua mãe.

Ela continuou:
- O meu Jimmy tinha um coração de ouro. Estava sempre a pensar nos outros. Sempre disposto a ajudar, se pudesse.
Depois de aí ter passado a maior parte dos últimos seis meses, Sally saiu do "Hospital Children's Mercy" pela última vez.
Colocou o saco com as coisas do seu filho no banco do carro ao lado dela.
A viagem para casa foi muito difícil. Foi ainda mais difícil entrar na casa vazia.

Levou o saco com as coisas do Jimmy, incluindo o cabelo, para o quarto do seu filho. Começou a colocar os carros e as outras coisas no quarto exatamente nos locais onde ele sempre os teve.
Deitou-se na cama dele, agarrou a almofada e chorou até que adormeceu.
Era quase meia-noite quando acordou e ao lado dela estava uma carta.
A carta dizia:

-Querida Mãe,
Sei que vais ter muitas saudades minhas; mas não penses que me vou esquecer de ti, ou que vou deixar de te amar só porque não estou por perto para dizer: "AMO-TE".
Eu vou sempre amar-te cada vez mais, Mãe, por cada dia que passe.
Um dia vamos estar juntos de novo. Mas até chegar esse dia, se quiseres adotar um menino para não ficares tão sozinha, por mim está bem.
Ele pode ficar com o meu quarto e as minhas coisas para brincar. Mas se preferires uma menina, ela talvez não vá gostar das mesmas coisas que nós, rapazes, gostamos.
Vais ter que comprar bonecas e outras coisas que as meninas gostam, tu sabes.
Não fiques triste a pensar em mim. Este lugar é mesmo fantástico!

Os avós vieram-me receber assim que eu cheguei para me mostrar tudo, mas vai demorar muito tempo para eu poder ver tudo.
Os Anjos são mesmo lindos! Adoro vê-los a voar!
E sabes uma coisa?
O Jesus não parece nada como se vê nas fotos, embora quando o vi o tenha conhecido logo.
Ele levou-me a visitar Deus!
E sabes uma coisa?
Sentei-me no colo d'Ele e falei com Ele, como se eu fosse uma pessoa importante. Foi quando lhe disse que queria escrever-te esta carta, para te dizer adeus e tudo mais…
Mas eu já sabia que não era permitido.
Mas sabes uma coisa Mãe?
Deus entregou-me papel e a sua caneta pessoal para eu poder escrever-te esta carta.
Acho que Gabriel é o anjo que te vai entregar a carta.
Deus disse para eu responder a uma das perguntas que tu Lhe fizeste, "Aonde estava Ele quando eu mais precisava?"...
Deus disse que estava no mesmo sítio, tal e qual, quando o filho d'Ele,
Jesus, foi crucificado. Ele estava presente, tal e qual como está com todos os filhos.

Mãe, só tu é que consegues ver o que eu escrevi, mais ninguém.
As outras pessoas vêem este papel em branco.
É mesmo maravilhoso não é!?
Eu tenho que dar a caneta de volta a Deus para Ele poder continuar a escrever no seu Livro da Vida.
Esta noite vou jantar na mesma mesa com Jesus…
Tenho a certeza que a comida vai ser boa.
Estava quase a esquecer-me: já não tenho dores, o câncro já se foi embora.
Ainda bem, porque já não podia mais e Deus também não podia ver-me assim.
Foi quando ele enviou o Anjo da Misericórdia para me vir buscar.
O anjo disse que eu era uma encomenda especial! O que dizes a isto?
Assinado com Amor de Deus, Jesus e de Mim.

domingo, 1 de abril de 2012

NINGUÉM NASCE ENSINADO

Por Maria Fernanda Barroca

Irene, nascida e criada em Moçambique, resolveu vir para Portugal e cá começou a trabalhar como empregada doméstica. O seu trabalho era, não só impecável, como muito rentável. Irene não brincava em serviço, pois queria ter uma vida com certas comodidades, mas à custa de trabalho honesto. Começou por habitar uma coisa a que não se pode chamar casa, pois que muitos cãezinhos de luxo têm mais conforto e higiene.

Juntou dinheiro e arranjou um pequeno apartamento. Dizia: “Irene trabalha, tem direito a ter comodidades” – a principal para ela era uma boa casa de banho, pois era extremamente limpa.

Tinha-lhe aparecido um bom emprego: um casal com uma filha pequena. O pai da criança era engenheiro e tinha uma vida muito ocupada; a mãe era médica e a sua profissão absorvi-a totalmente. Aquela filha viera pelo grande desejo do marido em ter filhos, porque para a mãe, bastava-lhe o estetoscópio, as seringas e o bloco das receitas. Quando chegava a casa, sempre muito cansada, metia-se no quarto e se a Irene já tinha saído, quem cuidava da menina era o pai. A Irene quando foi a primeira vez para essa casa, logo verificou que a menina sofria da falta de muita coisa: a começar no carinho, que a mãe não lhe dava por «falta de tempo», até à falta de higiene que a mãe não lhe dava por «falta de tempo», passando pelas deficiências na alimentação, que a mãe não cuidava por «falta de tempo».

A menina criada toda a semana com a Irene era uma criança bem comportada, para os seus três anos. Quando tentava uma perrice, a Irene com bons modos ralhava e educava. Nos fins-de-semana, como ninguém estava para se maçar a menina abusava e ninguém tinha mão nela. Sabendo isso, Irene, com a sua filosofia inata dizia: “Irene cuida da menina; logo também lhe dá educação; quando são horas de comer, come; quando são horas de dormir dorme; por muito que ela teime, Irene não cede”.

Um dia a Irene disse à senhora que no fim do ano ia a Moçambique matar saudades da terra e sobretudo da família que lá deixara. A senhora ficou em pânico e desabafou: “E agora quem vai tratar da menina? Sabe Irene, eu não sei -não fui feita para isto”. Então a Irene saiu-se com uma contra pergunta: “A senhora, quando nasceu já trazia a bata branca vestida (não esquecer que ela era médica); já trazia essa «coisa» pendurada ao pescoço? De certeza que não, mas aprendeu. Faça o mesmo agora pois ainda está a tempo, uma vez que é muito nova”.

Irene passou um mês em Moçambique, a visitar a sua família biológica, mas não esquecendo a “sua menina”. E pensava: oxalá que a senhora, neste mês que não teve a mãe-Irene, tivesse aprendido a cuidar da filha e que esta não esteja estragada com o «deixar correr» daqueles que dela se encarregaram.

Mas, coitada da Irene – teve de começar tudo de novo...

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

O local do crime

Foi logo no primeiro dia na Terra Santa que o "escândalo" se deu.

Já na véspera, durante a viagem, na escala feita em Bruxelas, o sacerdote que acompanhou a peregrinação tinha confidenciado que aceitara o convite com muito sofrimento. Naquele momento, durante a Santa Missa que es­tava a celebrar no Monte Carmelo, explicou melhor o que o atormentava.

Começou o seu desabafo com uma história ocorrida talvez trinta anos antes. Conversava ele com um adoles­cente de 15 anos que já cumpria com o preceito domi­nical e procurava incutir-lhe o hábito da leitura diária dos Evangelhos. O rapaz rebela­va-se, pois só lhe interessavam os livros policiais de crime e mistério. "É disso mesmo que se trata", respondeu-lhe o sa­cerdote, "com a diferença de que, nesses romances, fica-se a conhecer quem é o crimino­so, mas nos Evangelhos não. Será Pilatos, Caífás, Herodes, os romanos, os judeus, os chefes dos sacerdotes?" O jo­vem não conseguia responder e estava curioso por conhecer o assassino. "Eu sei quem foi. Queres saber? Fui eu. Não fui eu sozinho, mas fui eu!"

Após um breve silêncio, o celebrante voltou a dirigir-se aos peregrinos:

- "Agora entendeis porque venho com o coração a san­grar: o assassino volta sempre ao local do crime."

Todas as pessoas que for­mavam o grupo sentiram-se cúmplices daquele acto he­diondo, não explicitamente, mas no mais íntimo do seu ser: nas suas consciências. A partir daquele momento, fi­cou bem definido o objectivo da jornada: tratava-se de uma peregrinação, não de uma viagem turística ou cultural. Até mesmo os elementos não praticantes do grupo começaram a participar de um modo muito mais profun­do nos momentos de oração conjunta e, nas tertúlias de­pois do jantar, animavam-se a fazer perguntas ao sacer­dote e a contar algumas curiosidades relacionadas com episódios do dia ou ex­periências passadas.

Finalmente, já em Jerusa­lém, o "Mistério" ia-se des­vendando. Rejuvenescia a Fé, surgia uma vontade firme de compromisso, novo ou mais generoso, com Cristo. Não aconteceram "milagres". Nada se passou de extraordinário. Ninguém sentiu medo. Pelo contrário; o seu desejo era tornarem-se mais amigos daquele a quem tinham mor­to. Mais uma vez, ali, no local do crime, iam surgir vidas novas.

Isabel Vasco Costa,
In Notícias de Chaves, nº 3152 (13-01-2012)