sábado, 22 de outubro de 2016

A resposta que não obtive do Papa

Já havia tempo que um grande desconforto interior me impelia para a busca de uma resposta que eu não encontrava em publicações, como texto algum de autoridade credível ou documento do Magistério da Igreja. Conhecedor dos vários corredores escuros que dentro da própria Igreja dificultam e desviam a maioria dos fiéis que procuram chegar ao Altar de Deus, tinha plena consciência do grau de dificuldade com que me deparava para ver removida a dúvida que tanto mal-estar me causava.

Com a fé e a ingenuidade de criança (ingenuidade que tantas vezes ainda constato perdurar em mim), vi na vinda do Santo Padre João Paulo II a Portugal, por ocasião da beatificação dos Pastorinhos Francisco e Jacinta, a oportunidade de me ver definitivamente liberto de tão inquietante questão.

Como os pais que olham para a criança pequenina e assistem sorridentes ao vê-la dizer que ela faz, quando se trata de tarefa para a qual só um adulto está capaz, assim Nossa Senhora e Jesus se riram de mim, ao me verem a crer que também eu seria capaz de resolver a questão por mim mesmo, daquela forma. Só mais tarde eu viria a descobrir que Eles estavam “metidos na coisa”, de tal forma que, apesar de terem feito com que fosse eu mesmo a ter a oportunidade de colocar a questão ao Santo Padre pessoalmente, pondo-me a sós com ele, me levariam a sair de Fátima tão esclarecido quanto estava à ida. Só mais tarde eu viria a aperceber-me da “brincadeira” que Jesus fizera comigo, brincadeira na qual tomou parte Sua Mãe e que para mim até foi a mais “culpada”, ao olhar para a forma como Ela baralhou totalmente o plano oficial da missão traçado pelas entidades oficiais.

Tempos depois, não podendo precisar se foram dias, semanas ou meses, lancei um gritante apelo Àquele por Quem me apaixonei ainda em criança, para que fosse Ele mesmo a dar-me a resposta que não cheguei a obter do Santo Padre. Essa paixão não era mais do que o reflexo e consequência do enamoramento da alma pelo Criador, que reagia como que num pulsar de ondas de luz sempre que se via iluminada pela verdadeira luz da Luz.

Desgastado por uma angustiante incerteza, antes da resposta que pedia ao meu amado Senhor eu já tinha dado a minha a mim mesmo, que consistia em me retirar daquele movimento da Igreja, por ter chegado à dolorosa conclusão de que o mesmo não surgira por Sua divina vontade, muito embora os defensores apregoem aos quatro ventos que ele é obra do Espírito Santo para a Igreja do pós Vaticano II. A minha convicção é a de que isso seria o mesmo que admitir que o Espírito Santo se tenha posto de “candeias às avessas” com Deus Pai e com Deus Filho.

Estava, pois, tomada a decisão, depois de muito tempo em longo e doloroso processo de discernimento. Atendendo porém à larga experiência que sempre me mostrou o quão desastrosas tendem a ser as decisões tomadas com base nos cálculos e certezas meramente humanas, tratando-se de matéria que tocava profundamente o Coração já tão chagado de Jesus, supliquei-Lhe que confirmasse a minha decisão por meio de um sinal que eu pudesse entender como tal. O “acordo”, que eu “redigira”, era muito claro: se naquela Missa eu não visse um sinal Seu, era porque eu estava enganado quanto à conclusão a que chegara relativamente ao movimento em causa. Mas se fora Ele Quem me levou a tal conclusão e tomada de decisão, teria mesmo que me dar um sinal a confirmá-lo, uma vez que eu não podia sozinho dar aquele passo confiando que tinha recebido a necessária luz do Espírito Santo, ao saber como o demónio engana os bem-intencionados.

Foi este o meu diálogo com o Senhor, enquanto percorria os últimos metros que faltavam para chegar à Igreja do Santíssimo Nome de Jesus, a Igreja Matriz de Odivelas, num dia de semana.

Faltavam breves minutos para a celebração da Santa Missa quando entrei, e, logo ao fundo da igreja, desviando-me de alguém que estava para se sentar no primeiro banco do lado direito, apoio a mão esquerda no segundo do lado esquerdo, enquanto genuflectia com o joelho direito no chão, para melhor poder reverenciar o Senhor oculto no sacrário, com uma lenta e profunda inclinação. Olhando porém ao mesmo tempo para o sacrário, onde julguei que estivesse Jesus, vi-me na necessidade de ter que ajustar a minha postura corporal, prostrando-me com os dois joelhos em terra, ao ver que, afinal, Ele, no Santíssimo Sacramento, estava exposto no altar.

Depois do gesto ligeiramente mais demorado, próprio de quem se prostra em adoração, como havia que continuar ajoelhado nem cheguei a levantar-me, uma vez que foi só desviar os joelhos dois palmos para o lado, colocando-os uma-mão-travessa acima do nível do chão, no banco junto ao qual me prostrara.

Enquanto contemplava Nosso Senhor oculto na Hóstia Sagrada durante os breves minutos que antecederam a Santa Missa, pensando naquela surpresa de encontrar o Santíssimo exposto, aproveitei para Lhe lembrar o “acordo” que momentos antes fizera com Ele. É certo que Ele não me tinha dado um sinal prévio em como aceitava esse acordo, mas eu não tinha dúvida alguma em como não sairia daquela Missa sem um entendimento claro quanto à resposta que procurava, fosse ela por meio de um sinal, como Lhe pedira, fosse pelo Seu silêncio, o que segundo a “cláusula” do “acordo”, também era uma resposta, ainda que não concordante com o que eu julgava ser a mais plausível.

Chegado o momento da bênção do Santíssimo, o sacerdote do Altíssimo, Pe. Jan Janik, em vez de abençoar os muitos fiéis presentes conforme o costume da Igreja, desce corredor abaixo e, enquanto que para trás dele ficava o povo que abençoara, dirige-se objectivamente a mim, colocando-se mesmo em frente e a escasso meio metro, como se lhe tivesse sido dado conhecimento do “acordo” que Jesus ia “firmar” e para que eu não tivesse dúvida alguma disso mesmo. Assim recebo a bênção do Senhor Jesus, com o sacerdote a olhar para mim como se eu fosse a única pessoa a quem estava a abençoar por não haver mais ninguém na igreja. Atónito, estremeci de emoção. E não era para menos, tendo em conta as “cláusulas” do “acordo” que acabava de ser assinado pela Outra Parte, daquela forma. Com a “assinatura” Jesus acabava de me demonstrar que eu descortinara correctamente a Sua divina vontade, conhecida que pode ser apenas por aqueles que se lançam confiantes no abismo da Sua Justiça e Misericórdia.

Como que atordoado, não só pelo tão claro sinal mas também por ver até onde o Criador do Universo, Majestade Infinita, é capaz de descer por amor aos Seus filhos, ali permaneci, quase sem me aperceber do andamento da Santa Missa, até que chega o momento da Comunhão, sem quase me dar conta nem do espaço nem do tempo. Essa abstracção colocou-me numa situação embaraçosa, atendendo que à fila daquele lado é sempre uma pessoa que não o ministro sagrado a distribuir a sagrada comunhão, e eu não poder receber o Senhor de mãos não consagradas depois de conhecer a Verdade, acessível que é a todos quantos de coração humilde a procuram. Não estou a falar de uma verdade conhecida por alguns eleitos por meio de alguma graça especial, mas dessa Verdade que se encontra mais do que documentada no inviolável depósito da fé.

Daquela situação embaraçosa quis também livrar-me o Céu. E digo assim por não saber se não terá sido Nossa Senhora a querer também tomar parte, Ela que desde há três séculos é chamada de Nossa Senhora Desatadora dos Nós.

De facto, juntamente com o sacerdote de Cristo estava uma das habituais paroquianas, mas, qual não foi o meu espanto, eu não só poderia comungar da mão do sacerdote como ainda receberia o Corpo e o Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, já que a senhora apenas segurava o cálice.

Ainda que eu não necessitasse deste tão claro segundo sinal, Jesus assim entendeu para arrumar de uma vez por todas com a questão. O mal que há muito me incomodava e que se espalhou como doença grave no Corpo Místico de Cristo, chama-se Renovamento Carismático. E é uma pena. Soubesse a Hierarquia retirar apenas o que de bom tem esse movimento das igrejas protestantes, moldando-o de forma a encaixar perfeitamente na teologia e Tradição da Santa Igreja Católica, e ele seria um seguro porto de abrigo para a espiritualidade de muitas almas.

Peço ao Senhor que esta partilha possa tocar os corações de muitos filhos Seus. E se dúvidas tiverem, sobre esta questão em particular ou outra que que lhes tenha gerado algum desconforto, com a maior sinceridade de coração, não deem “descanso” a Jesus, que Ele há-de responder-vos.

Seja louvado Nosso Senhor Jesus Cristo!


AMDG,
José Augusto Santos