quinta-feira, 31 de março de 2016

Do campo de concentração até S. João Paulo II



No início da Segunda Guerra Mundial, Wanda Wojtasik, uma católica polaca de 17 anos, juntou-se à resistência. A Gestapo apanhou-a, torturou-a para lhe arrancar os nomes dos companheiros e, como não conseguiu, fecharam-na no campo de concentração de Ravensbrück, juntamente com centenas de milhares de outras mulheres, amontoadas num recinto incrivelmente pequeno para tanta gente, obrigadas a trabalhar até à exaustão, muitas vezes com neve. A maioria delas morreu, mas o número total foi sempre em aumento, por causa do afluxo de novas prisioneiras. Perdiam tudo, até o nome, substituído por uma matrícula.
A 7709 passou pelas torturas extravagantes de Ravensbrück. Uma das piores era o pavilhão das lésbicas, onde algumas prisioneiras descontroladas agrediam as outras e se exibiam, enlouquecidas. Impressiona que as crianças fossem um dos alvos e impressiona a reacção da maioria das prisioneiras (a maioria católicas praticantes), agarradas à oração, no meio daquele delírio de violência e degradação.
A 7709 foi também escolhida para servir de «Kaninchen» (cobaia, na linguagem macabra de Ravensbrück). Partiam os ossos às «Kaninchens», infectavam-lhes as feridas com madeiras e trapos sujos (não vale a pena adiantar pormenores) e a seguir ensaiavam medicamentos novos, a ver quem resistia. Muitas não aguentavam e as que sobrevivessem deveriam ser mortas. Neste ponto da história, aconteceu um momento sublime de ternura. A multidão das prisioneiras de Ravensbrück, que morria de fome e de frio, pediu clamorosamente que poupassem as «Kaninchens» e – mais estranho ainda – as SS aceitaram o pedido. Em 1945, quando os soviéticos chegaram, a 7709 foi libertada.
Demorou muito tempo até a 7709 se habituar a ser novamente Wanda. As dores atrozes e os pesadelos ficaram para sempre. Casou-se com o Prof. Andrzej Półtawska, com quem teve 4 filhas, e ainda arranjou força para fazer o curso de medicina e especializar-se em psiquiatria.
Lembrei-me desta mulher quando li a mensagem do Papa Francisco neste Natal: «o meu pensamento vai para todos as crianças que hoje são mortas e maltratadas... antes de verem a luz, privadas do amor generoso dos seus pais e sepultadas no egoísmo de uma cultura que não ama a vida».
Em plena ditadura comunista, Wanda Półtawska comparou o drama do aborto com o Holocausto, deixando as comunistas polacas de cabeça perdida. E, em vez de voltar atrás, insistiu: «como é que dizem defender a liberdade da mulher e condenam à morte os seres mais indefesos que existem no mundo? O número de abortos realizados no planeta é aterrador e ultrapassa em muito o número de vítimas de todas as guerras».
Wanda vira recém-nascidos a serem atirados para os fornos de Ravensbrück e prometera a si mesma que, se sobrevivesse, estudaria e trabalharia para defender a vida humana.
O encontro de Wanda com o Padre Karol Wojtyła foi decisivo e durou para sempre. Quando não podiam encontrar-se, trocavam cartas, que Wanda Półtawska reuniu, com considerações suas, num volume intitulado «Diário de uma Amizade» (publicado depois da morte de João Paulo II, editado em português pela Paulus). Os textos centram-se na Eucaristia e na importância da oração. Há também cartas muito interessantes sobre o sentido do sofrimento e a santificação da vida familiar e profissional. O prólogo é do marido, Andrzej Półtawska.
A intensa amizade desta família com Karol Wojtyła inclui muitas colaborações e alguns favores curiosos. Em 1962, quando o Bispo Wojtyła estava em Roma para o Concílio Vaticano II, Wanda foi internada no hospital com cancro. O marido preveniu Wojtyła por telegrama e este escreveu uma carta ao Padre Pio de Pietralcina, um franciscano com fama de santidade, para que pedisse a Deus o milagre. A cura foi total e inexplicável, e o Bispo Wojtyła voltou a escrever ao Padre Pio, a agradecer-lhe a oração.
José Maria C. S. André, in,
http://senzapagare.blogspot.pt/2016/02/wanda-potawska-do-campo-de-concentracao.html

quinta-feira, 24 de março de 2016

Importante testemunho de jovem casal



A Cristina e o Bruno, casados civilmente, decidiram um dia casar pela igreja. Foram ao cartório da que está à beira de sua casa para saberem do que seria necessário. Atendendo a que a Cristina apenas tinha o Baptismo, recebido em criança, e o Bruno nem o Baptismo, foram aconselhados a inscreverem-se na catequese de adultos, onde viriam a sentir-se bem acolhidos. 
Ambos se revelaram desde logo os catequizandos que todo o catequista gostaria de ter, por serem participativos e muito interessados. Para o catequista, o Bruno entrou na catequese a “dar luta”, desafio de que o catequista tanto gostava. De “combate” em “combate”, o contentamento do catequista ia aumentado à medida que o “adversário” também ia ficando mais forte.
Pelas razões já referidas, estavam os dois completamente a “zeros” no tocante ao conhecimento da Igreja e do que é ser cristão. Sabiam que uma igreja é onde o padre “dá a missa”, e creio que pouco mais. Mas já não estavam tanto a “zeros” relativamente àquele outro conhecimento que sobre ela levavam do mundo, o que era mais notório no Bruno, quiçá por ser mais interventivo.
Apesar de ele ter entrado para o “combate” sem conhecimento algum das regras, por força da sua estrutura interior, assente nos pilares da simplicidade e da sinceridade intelectual, o combatente cedo passou a revelar um sincero desejo de conhecimento.
E foi assim que aos poucos o Bruno, mesmo que disso nem tivesse plena consciência, foi dando sinais dos efeitos que as catequeses nele estavam a produzir. O brilho no seu olhar e no seu rosto quando falava confirmavam isso mesmo. Nas palavras do catequista, era a acção do Espírito Santo a operar no coração do Bruno. E não era preciso estar muito atento para perceber que foi Ele Quem o levou à catequese e por ela o instruía. Por isso, sem resistência, o catequizando se tornou Seu pequeno discípulo.
Como outros seus colegas de grupo e de anos anteriores, o Bruno e a Cristina confirmavam no catequista aquilo que nem dizê-lo podia, certo de que não seria bem entendido se demonstrasse a sua grande alegria em Deus ao ver os resultados da sua entrega. Conhecendo-o eu como conheço, sei que seu orgulho e sua alegria assentam simplesmente no facto de ver a acção de Deus naqueles Seus filhos que se deixam atrair por Ele.
Em seu sentido de humor, conta o catequista:
O encantamento que isso em mim causava, não raras vezes me levou a falar-lhes com lágrimas de emoção, lágrimas que acabariam por denunciar-me como traficante de amor. E digo assim uma vez que “o produto” não é meu mas do Alto “Chefe”, por Quem sou incumbido da simples tarefa de fazer a entrega aos que desejam “consumir”.
Paralelamente a este caminho, o casal estava a percorrer aquele outro que todos os noivos têm que fazer, que é o tratar de todos os preparativos para o grande dia com a necessária antecedência. Alertado para o facto de a data do casamento já ter sido marcada, bem como o local da boda, tendo inclusive sido pago uma parte do custo total como sinal, viu-se o catequista a ter que resolver um problema:
Recebidos os Sacramentos, não podiam continuar a ter vida conjugal antes de no Céu ser registada e também festejada a sua união matrimonial. Por isso, e depois de catequizados para o efeito, o que não foi nada difícil dada a doçura de ambos, o catequista disse à Cristina que não podia ser proposta para o Crisma, que seria no ano seguinte, e que faria a sua Primeira Comunhão na celebração do Sacramento do Matrimónio.
Obtida a sua concordância, restava encontrar a melhor solução para o caso do Bruno. Atendendo a que o casamento estava marcado para o dia 4 de Outubro, a melhor data que o catequista encontrou para o seu baptismo foi a de 14 de Setembro, por ser o Dia da Exaltação da Santa Cruz e até calhar ao Domingo, sendo ao mesmo tempo a que melhor se adequava à prova por que tinham que passar. Pelas catequeses compreenderam e aceitaram que Jesus tinha que passar a fazer parte das decisões a tomar. E a prova, como já digo acima, era a de viverem a virtude da castidade a partir do baptismo do Bruno até ao casamento.
Conscientes dos deveres cristãos nobremente assumidos, aceitaram em viver separados aquele período. E a solução por eles encontrada foi a de o Bruno ir para casa de um casal amigo. No entanto acabaram por entender que para serem fiéis ao Senhor e a eles mesmos, não tinham que passar a viver em casas separadas, que era possível manter essa fidelidade partilhando a mesma casa.
E porque com Deus as nossas debilidades passam a ser portas trancadas com a força do Espírito Santo, o Bruno, que depois de assumirem tal propósito viria a receber os três Sacramentos da Iniciação Cristã, (Baptismo, Eucaristia e Confirmação), viu-se assim tão mais fortalecido para não dar qualquer hipótese ao tentador.
Se no casamento o noivo mantinha aos olhos de todos o mesmo aspecto, a mesma fisionomia do Bruno, o sacramento que celebrava dava ao esposo a forma de santo, aliás, forma que pelo Baptismo já fora dada ao noivo, e com um tal poder que apagou nele todo o pecado, não necessitando por isso do Sacramento da Penitência (Confissão).
A esse Sacramento recorreu a Cristina, para que naquele importante dia pudesse fazer o “dois em um”, ou seja, celebrar o Sacramento do Matrimónio e receber Jesus Vivo no Sacramento da Eucaristia. A sua Primeira Comunhão passou assim a tornar o dia 4 de Outubro ainda mais memorável.                           
E o pobre catequista, pessoa para quem nada há de mais sagrado do que a presença real de Jesus na hóstia consagrada, a assistir com lágrimas de louvor a Deus por tão grandioso e transcendente momento em que aquela alma pequenina recebia tão dignamente o Redentor. Talvez num acto de “solidariedade”, as lágrimas desse momento juntaram-se às que derivavam do amor que sentia por aqueles novos esposos.
Dias depois, quando chegaram da merecida “Lua-de-Mel”, disseram ao orgulhoso e feliz catequista que de facto tudo aconteceu como ele lhes dissera, ao conseguirem que a graça de Deus não fosse manchada por cedência à tentação. Isso lhes deu o conhecimento do quão importante é o deixarmo-nos guiar por Aquele que a todo o momento espera que aceitemos os Seus conselhos.
Agora compreendo eu a razão de tanto orgulho daquele catequista, feliz por ver, neste e noutros casos, os resultados da sua fidelidade ao Senhor, que é o mesmo que dizer, à doutrina da Sua Igreja, como compreendo a razão da sua alegria e do seu entusiasmo quando fala do amor de Deus.
Esta história deste lindo casal, que eu conheço, trago-a ao conhecimento do leitor como testemunho de exemplo a seguir por quantos têm prática religiosa e, a pesar disso, em nada, mesmo em nada se distinguem de qualquer ateu nas mais diversas questões da vida humana, mas particularmente nesta da castidade.
É pena que não saibam ou não queiram saber que a sexualidade tem na vida do cristão uma importância vital, na medida que tanto serve como escada para o Céu como porta para Inferno. Mas a primeira razão de aqui trazer este edificante testemunho, depois de obtida a necessária autorização do casal, obviamente, tem a ver com a resposta que há dias prometi dar a um amigo meu, que, sendo ele também pessoa que se entregara aos cuidados de sua Mãe Igreja, me falou de uma nova situação em sua vida, para saber a minha opinião.
Curiosamente, também este meu amigo fez caminho com o mesmo catequista. Engenheiro de formação, mesmo depois de ter recebido o Crisma, à semelhança de outros quis continuar1 na catequese de adultos, atraído pela engenharia da obra que Deus vai edificando no coração do Homem. Como digo, a minha opinião não lha dei logo, pois, depois de tudo o que me tem contado da catequese e do catequista, achei que não deveria ser eu a responder-lhe naquele momento. E hoje, depois de ter reflectido sobre o assunto, o melhor conselho que lhe posso dar é que procure o seu catequista, porque não vejo quem melhor o possa aconselhar.
__________________________
1 Se uma questão de força maior não o tivesse impedido, a avaliar pelo que dele conheço, não teria estado na catequese apenas mais dois anos.


sexta-feira, 18 de março de 2016

A cremação dos corpos é contrária à fé da Igreja


À hora do almoço, diante da televisão, que mostrava o cortejo fúnebre do actor Nicolau Breyner, quando alguém falou da cremação, disse eu aos presentes que, se ainda se dizem cristãos não devem pedir a cremação. A resposta de um deles levou-me a dizer-lhe que lhe enviaria por mail a fundamentação do que defendi. Entendendo que esta informação também poderá interessar aos leitores, aqui a deixo, através do link: