A Cristina e o Bruno, casados civilmente, decidiram um dia casar pela igreja. Foram
ao cartório da que está à beira de sua casa para saberem do que seria
necessário. Atendendo a que a Cristina apenas tinha o Baptismo, recebido em
criança, e o Bruno nem o Baptismo, foram aconselhados a inscreverem-se na
catequese de adultos, onde viriam a sentir-se bem acolhidos.
Ambos
se revelaram desde logo os catequizandos que todo o catequista gostaria de ter,
por serem participativos e muito interessados. Para o catequista, o Bruno
entrou na catequese a “dar luta”, desafio de que o catequista tanto gostava. De
“combate” em “combate”, o contentamento do catequista ia aumentado à medida que
o “adversário” também ia ficando mais forte.
Pelas
razões já referidas, estavam os dois completamente a “zeros” no tocante ao
conhecimento da Igreja e do que é ser cristão. Sabiam que uma igreja é onde o
padre “dá a missa”, e creio que pouco mais. Mas já não estavam tanto a “zeros”
relativamente àquele outro conhecimento que sobre ela levavam do mundo, o que
era mais notório no Bruno, quiçá por ser mais interventivo.
Apesar
de ele ter entrado para o “combate” sem conhecimento algum das regras, por
força da sua estrutura interior, assente nos pilares da simplicidade e da
sinceridade intelectual, o combatente cedo passou a revelar um sincero desejo
de conhecimento.
E
foi assim que aos poucos o Bruno, mesmo que disso nem tivesse plena
consciência, foi dando sinais dos efeitos que as catequeses nele estavam a
produzir. O brilho no seu olhar e no seu rosto quando falava confirmavam isso
mesmo. Nas palavras do catequista, era a acção do Espírito Santo a operar no
coração do Bruno. E não era preciso estar muito atento para perceber que foi
Ele Quem o levou à catequese e por ela o instruía. Por isso, sem resistência, o
catequizando se tornou Seu pequeno discípulo.
Como
outros seus colegas de grupo e de anos anteriores, o Bruno e a Cristina
confirmavam no catequista aquilo que nem dizê-lo podia, certo de que não seria
bem entendido se demonstrasse a sua grande alegria em Deus ao ver os resultados
da sua entrega. Conhecendo-o eu como conheço, sei que seu orgulho e sua alegria
assentam simplesmente no facto de ver a acção de Deus naqueles Seus filhos que
se deixam atrair por Ele.
Em
seu sentido de humor, conta o catequista:
‒ O encantamento que isso em
mim causava, não raras vezes me levou a falar-lhes com lágrimas de emoção,
lágrimas que acabariam por denunciar-me como traficante de amor. E digo assim
uma vez que “o produto” não é meu mas do Alto “Chefe”, por Quem sou
incumbido da simples tarefa de fazer a entrega aos que desejam “consumir”.
Paralelamente a este caminho, o casal
estava a percorrer aquele outro que todos os noivos têm que fazer, que é o
tratar de todos os preparativos para o grande dia com a necessária
antecedência. Alertado para o facto de a data do casamento já ter sido marcada,
bem como o local da boda, tendo inclusive sido pago uma parte do custo total
como sinal, viu-se o catequista a ter que resolver um problema:
Recebidos os Sacramentos, não podiam
continuar a ter vida conjugal antes de no Céu ser registada e também festejada
a sua união matrimonial. Por isso, e depois de catequizados para o efeito, o
que não foi nada difícil dada a doçura de ambos, o catequista disse à Cristina
que não podia ser proposta para o Crisma, que seria no ano seguinte, e que
faria a sua Primeira Comunhão na celebração do Sacramento do Matrimónio.
Obtida a sua concordância, restava
encontrar a melhor solução para o caso do Bruno. Atendendo a que o casamento
estava marcado para o dia 4 de Outubro, a melhor data que o catequista
encontrou para o seu baptismo foi a de 14 de Setembro, por ser o Dia da
Exaltação da Santa Cruz e até calhar ao Domingo, sendo ao mesmo tempo a que
melhor se adequava à prova por que tinham que passar. Pelas catequeses compreenderam
e aceitaram que Jesus tinha que passar a fazer parte das decisões a tomar. E a
prova, como já digo acima, era a de viverem a virtude da castidade a partir do
baptismo do Bruno até ao casamento.
Conscientes dos deveres cristãos
nobremente assumidos, aceitaram em viver separados aquele período. E a solução
por eles encontrada foi a de o Bruno ir para casa de um casal amigo. No entanto
acabaram por entender que para serem fiéis ao Senhor e a eles mesmos, não
tinham que passar a viver em casas separadas, que era possível manter essa
fidelidade partilhando a mesma casa.
E porque com Deus as nossas debilidades
passam a ser portas trancadas com a força do Espírito Santo, o Bruno, que
depois de assumirem tal propósito viria a receber os três Sacramentos da
Iniciação Cristã, (Baptismo, Eucaristia e Confirmação), viu-se assim tão mais
fortalecido para não dar qualquer hipótese ao tentador.
Se no casamento o noivo mantinha aos
olhos de todos o mesmo aspecto, a mesma fisionomia do Bruno, o sacramento que
celebrava dava ao esposo a forma de santo, aliás, forma que pelo Baptismo já
fora dada ao noivo, e com um tal poder que apagou nele todo o pecado, não
necessitando por isso do Sacramento da Penitência (Confissão).
A esse Sacramento recorreu a Cristina,
para que naquele importante dia pudesse fazer o “dois em um”, ou seja, celebrar
o Sacramento do Matrimónio e receber Jesus Vivo no Sacramento da Eucaristia. A
sua Primeira Comunhão passou assim a tornar o dia 4 de Outubro ainda mais memorável.
E o pobre catequista, pessoa para quem
nada há de mais sagrado do que a presença real de Jesus na hóstia consagrada, a
assistir com lágrimas de louvor a Deus por tão grandioso e transcendente
momento em que aquela alma pequenina recebia tão dignamente o Redentor. Talvez
num acto de “solidariedade”, as lágrimas desse momento juntaram-se às que
derivavam do amor que sentia por aqueles novos esposos.
Dias depois, quando chegaram da
merecida “Lua-de-Mel”, disseram ao orgulhoso e feliz catequista que de facto
tudo aconteceu como ele lhes dissera, ao conseguirem que a graça de Deus não fosse
manchada por cedência à tentação. Isso lhes deu o conhecimento do quão
importante é o deixarmo-nos guiar por Aquele que a todo o momento espera que aceitemos
os Seus conselhos.
Agora compreendo eu a razão de tanto
orgulho daquele catequista, feliz por ver, neste e noutros casos, os resultados
da sua fidelidade ao Senhor, que é o mesmo que dizer, à doutrina da Sua Igreja,
como compreendo a razão da sua alegria e do seu entusiasmo quando fala do amor
de Deus.
Esta história deste lindo casal, que eu
conheço, trago-a ao conhecimento do leitor como testemunho de exemplo a seguir
por quantos têm prática religiosa e, a pesar disso, em nada, mesmo em nada se
distinguem de qualquer ateu nas mais diversas questões da vida humana, mas
particularmente nesta da castidade.
É pena que não saibam ou não queiram
saber que a sexualidade tem na vida do cristão uma importância vital, na medida
que tanto serve como escada para o Céu como porta para Inferno. Mas a primeira
razão de aqui trazer este edificante testemunho, depois de obtida a necessária
autorização do casal, obviamente, tem a ver com a resposta que há dias prometi dar
a um amigo meu, que, sendo ele também pessoa que se entregara aos cuidados de
sua Mãe Igreja, me falou de uma nova situação em sua vida, para saber a minha
opinião.
Curiosamente, também este meu amigo fez
caminho com o mesmo catequista. Engenheiro de formação, mesmo depois de ter
recebido o Crisma, à semelhança de outros quis continuar1 na
catequese de adultos, atraído pela engenharia da obra que Deus vai edificando
no coração do Homem. Como digo, a minha opinião não lha dei logo, pois, depois
de tudo o que me tem contado da catequese e do catequista, achei que não
deveria ser eu a responder-lhe naquele momento. E hoje, depois de ter
reflectido sobre o assunto, o melhor conselho que lhe posso dar é que procure o
seu catequista, porque não vejo quem melhor o possa aconselhar.
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1 Se uma questão
de força maior não o tivesse impedido, a avaliar pelo que dele conheço, não
teria estado na catequese apenas mais dois anos.