Seguia um casal de
namorados no Metro, quando determinado passageiro entra e se senta em frente a
eles. Como em outras situações em que as pessoas só não mudam de lugar porque
não podem quando vêem um “personagem” muito esquisito sentar-se junto a elas, estes
namorados não tiveram qualquer problema em demonstrar o quão incomodados se
sentiram ao verem aquele passageiro a sentar-se ao pé deles. Se fosse um
daqueles todos esfarrapados, mesmo com caveiras tatuadas no pescoço ou nos
braços e cheio de piercings, ainda vá que não vá, agora alguém todo de preto,
daqueles que toda a gente identifica como padre, por causa da batina, já era
demais.
Então o jovem, numa
clara demonstração da aversão que sentia aos valores ali tão claramente
representados, sem uma palavra, fitando o Padre nos olhos ao mesmo tempo que
soerguia o pescoço, qual galo emproado, agarra-se à namorada numa cena de beijos
bem ao jeito de Hollywood.
Naquele inesperado “assalto”,
poderia dizer-se que o jovem vencera por “KO” o embaraçado Padre, que, corado e
envergonhado, a determinada altura do “combate” teve que reagir com um:
«Parem lá com isso!»
Então o jovem, cheio da
razão que as ideias do mundo de hoje lhe conferem, desfere ao “adversário” o
que julgou ser o golpe que o arrumaria de vez:
«Eu sou livre de fazer o
que quiser!...»
E, dito e feito, sem
necessidade de se mostrar muito corajoso para continuar aquele tipo de
provocação ou achincalhamento na medida em que não esperava reprovação por
parte dos demais passageiros, por saber que o mundo de hoje sofre de grave
alergia a um padre de batina (apesar de o maior número dos “alérgicos” ser
constituído por baptizados), retoma a “cena hollywoodesca”.
Refeito porém do primeiro
choque, o homem de Deus não desiste e surpreende o “adversário” com uma técnica
capaz de não só resistir mas também de rechaçar todos os golpes. Puxa da arma
que tinha no bolso, e começa a disparar:
«Pai Nosso, que estais
nos Céus, santificado seja o Vosso Nome…»
Nunca esperando tal
reacção, o “galo emproado” que a princípio julgou estar a provocar um “gatinho
caseiro”, constatando que afinal se tinha metido com um “lince selvagem”, para
que a namorada não o visse a ter que “baixar a crista” quando se viu dominado
pela técnica usada no contra-ataque que fez inverter a força dominante, em
desespero, reage com o mesmo golpe que recebera:
«Pare lá com isso!...»
Contrariamente ao que
seria expectável, palavras mais encorajadoras o homem de Deus não podia
esperar, por lhe darem a possibilidade de devolver ao jovem, e “servido de
bandeja”:
«Eu sou livre de fazer o
que quiser!...»
Sem mais nada dizer
sobre o que terá sido a continuidade daquele combate, dito agora sem comas, ou
seja, no verdadeiro sentido da palavra uma vez que se tratou de um combate
desencadeado pelo Mal para ridicularizar a Tradição da Igreja, o Rev. Padre
Hugo Santos, que durante a homilia na santa Missa das 19:15 de 30-6-2019 contou
este episódio passado com ele, deu apenas conta do resultado final, que foi,
dito por mim na mesma forma de linguagem figurada: o jovem, saindo do combate a
precisar de “cuidados médicos”, acabou por aceitar o conselho do adversário
para ir ao único hospital capaz de o tratar, ou seja, ao confessionário.
Se nós, sempre que vemos
nas ruas, nos transportes ou onde seja, uma Freira ou um Padre identificados
como tal, lhes demonstrássemos o nosso agrado por vermos o seu testemunho de
alma consagrada, talvez isso servisse de estímulo a algumas dessas outras almas
que preferem esconder-se na aparência de pessoas normais.
Se os padres, e para o
efeito até mesmo as freiras, se consciencializassem que fora da igreja a sua
visibilidade tem para uns um efeito semelhante ao de um polícia que é avistado
pelo condutor que estava prestes a cometer uma transgressão, e para outros um sentimento
idêntico ao daquelas pessoas que se sentem mais seguras ao verem um polícia,
deixariam de querer “acompanhar os tempos” ao constatarem o peso e a força que
as vestes sagradas conferem a quem não foge às lutas.
José Augusto Santos