quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

TUDO SE PASSA NUM PISCAR DE OLHOS

Muitos, usando da liberdade que o Criador a todos concedeu e jamais deixou de respeitar, não crêem nisto, mas o ser humano, desde a sua concepção, momento em que a alma criada por Deus a ele se une, é concebido para sempre, não apenas para o tempo em que neste mundo vive materialmente.

Então, se o tempo que vivemos neste mundo é apenas um piscar de olhos comparado com aquele para o qual todos fomos destinados, um breve caminho a percorrer até chegarmos à margem do grande mar profundo que todos atravessamos, é de interesse vital que façamos tal caminho exercitando-nos para a grande travessia.

Toda a humanidade, e cada um de nós, caminha sem mapa ou qualquer outro meio que lhe permita saber se ainda se encontra longe ou muito perto da margem do grande mar. É como estar numa ilha de densas florestas em que tanto dá caminhar num ou noutro sentido, pois todos vamos dar ao mar, esse mar misterioso porque ainda desconhecido para nós.

Aquele que nos lançou nesta aventura, deu-nos inteligência para interpretarmos todos os sinais que haveriam de nos servir de orientação para chegarmos a um ponto muito específico da ilha, um ponto que, embora de difícil acesso, é o único onde uma barca espera os que se deixaram orientar e não pouparam esforços para lá chegarem, para os levar para a civilização onde serão verdadeiramente e para sempre felizes.

Assim aconteceu durante um tempo, até que, vendo que a maioria se inclinava para outros sinais criados pelo inimigo com o propósito de nos conduzir por caminhos diversos que só levam a um medonho abismo, o Criador enviou um mensageiro, o Seu Próprio Filho, que nos trouxe cartas, mapas, bússolas, e até o conhecimento das estrelas para quando nos perdêssemos na noite. Mas não se ficou por aí. Comunicou o seu conhecimento e o seu poder a alguns que chamou para o efeito, dizendo-lhes que levassem a todos os restantes, sem esquecer aqueles que sempre seguiram outros trilhos e os que já se tinham desviado do caminho seguro, o conhecimento e o poder que lhes fora transmitido.

Acontece que alguns de entre os que foram chamados para serem guias, têm dado mau exemplo. Aproveitando os privilégios da própria condição de guias, são vistos nos mesmos caminhos onde se encontram os prazeres prometidos a quem seguir os sinais colocados pelo inimigo. E uma vez infiéis ao compromisso assumido de permanecerem firmes em seu posto e vigilantes para discernirem o mal que também a eles e em primeiro lugar procura seduzir, levam a maioria dos caminhantes a descrerem no caminho onde eles têm seus postos de vigia, o único pelo qual se pode chegar ao ponto onde a barca espera todo o que foi perseverante.

Se a culpa deles é imensa, a estultice dos que vão por outros caminhos ainda é maior ao se justificarem com a infidelidade dos guias. O caminho seguro já foi, ao longo dos tempos, percorrido por muitos e muitos caminhantes como nós, que nos deixaram em seus “diários” relatos impressionantes, onde os sensatos e inteligentes podem ver que afinal as primeiras dificuldades que levam muitos a desistirem é o contratestemunho de muitos que se deixaram corromper. E os que perseveraram apesar de todas as dificuldades, assim como outros que ainda estão como nós a percorrer o caminho, mas esse mesmo caminho certo, mostram-nos toda a nossa fraqueza, a qual nos leva a julgarmo-nos fortes ao criticarmos os maus exemplos, e justos por não sermos como eles. Mas também nos mostram o quão contaminados fomos por um mal que nos impede de vermos sem dificuldade as verdades eternas. E esse mal, que ataca em primeiro lugar a forma como vemos as coisas, espalha-se por outras áreas, visando essencialmente a responsável pelas emoções e sentimentos, daí que, quem dele padece, passa não só a não ver com clareza as cores do bem e do mal, mas ainda é levado a sentir repulsa, quando não é mesmo ódio, pelo grupo que fora constituído guia para todos nós, como se o mau exemplo de muitos deles retirasse as propriedades nutricionais ao alimento que pelo caminho nos vão dispensando. Desengane-se, pois, de uma vez: sem esse substancial e energético alimento, dado unicamente nos pontos preparados para o efeito, todos vamos ficando fracos ao ponto de aceitarmos mudar para outro caminho menos exigente.

Que ninguém pense que é dono e senhor de si mesmo. Quem assim pensa não se dá conta que, mais um ou dois passos, está mesmo à beira do abismo, no qual se precipitará se insistir em não dar ouvidos a quem do outro lado lhe grita para que volte para trás.

Agora para si que se deixou levar pelos que lhe falaram nos prazeres dos outros caminhos, pare, e procure por si mesmo quais os sinais que indicam o caminho certo. E porque ninguém lhe pode tirar tal liberdade, decida-se: ou por um dos muitos caminhos já percorridos, sabendo agora que todos vão dar ao abismo, ou pelo mais estreito mas seguro, o único que o conduz ao ponto onde se encontra a barca que o levará para mais além desta ilha onde ainda nos encontramos e para lá da qual quiçá pense nada mais existir, para onde a completa e verdadeira felicidade se vive para sempre.

Como não sabe qual a distância do percurso que lhe foi dado, e por isso desconhecer se é ainda hoje ou amanhã que chega ao fim, mude hoje mesmo, e corra até um dos postos dos guias para que lhe passe o salvo-conduto para entrar na barca. Vá, levante-se e corra!