Hoje, no Metro, sentadas nos bancos contíguos, conversavam duas mulheres
jovens. A que seguia de costas para mim expunha à outra os seus progressos na
formação que estava a fazer. Vendo na sua interlocutora algum interesse, passou
da simples informação à táctica da angariação.
A “presa” perguntou se se tratava de coisas esotéricas,
demonstrando nisso algum interesse, facto que parece ter deixado a
“angariadora” mais confiante. A partir dali, a jovem africana (pelo menos na
origem) passou a ouvir repetidas vezes a palavra “fácil”. Tudo era muito muito
fácil. Bastava a inscrição, e ficava automaticamente agregada à proponente.
Toda a informação lhe fora dada, até a questão do custo da
inscrição, que era baixo, mesmo sendo a formação dada num hotel. Essa formação,
que designava de workshop, era sobre
Reiki, tendo ela já feito o nível 3. Interrogada se haveria outras coisas,
disse que só em Maio haveria outros workshops
sobre cristais.
A que estava a ser aliciada ia
junto à janela, de frente para mim, o que me permitia, discretamente, apreciar
sua fisionomia, suas expressões, enfim, aqueles traços que me levaram a
concluir tratar-se de uma moça de bem. Esse facto mais ajudou à minha
inquietação.
A dada altura, ainda me levantei para me sentar junto delas, para poder meter conversa,
mas decidi voltar ao meu lugar.
A uma mocinha que se sentou em
frente a mim, perguntei se tinha uma caneta que me emprestasse, e comecei a
escrever num papel que trazia no bolso (um pequeno impresso alusivo à história
do Santo Lenho). A intenção era entregar aquele papel, com a seguinte
indicação: «Sobre o que lhe está a ser
proposto, é importante que veja no youtube, o “Testemunho da Aldina”, mas,
chegados à estação do Campo Pequeno, duas antes daquela onde eu ia sair, a que
estava a ser aliciada para a iniciação no Reiki saiu.
Eu regressava ao trabalho após a
hora do almoço, e, não obstante o já ir atrasado, ainda que se tratasse de um
atraso autorizado, entreguei rapidamente a caneta e saí atrás dela. Abordei-a
então, explicando-lhe aquela minha atitude, enquanto lhe mostrava a mensagem
que não chegara a completar. Mas para que o mais importante dessa mensagem não
ficasse apenas nas palavras, não fosse esquece-la, com uma caneta dela,
completei-a.
Os traços de bondade
quase se liam naquele rosto sereno. Era, pois, em meu entender, uma presa fácil
para o Mal que se esconde atrás de tantas coisas com toda a aparência de bem.
Explicando-lhe que perante factos desta natureza eu estaria
muito errado se ficasse de braços cruzados, disse-lhe ainda que esse é um dos
meus campos de batalha enquanto catequista. Ao lhe perguntar se era católica,
respondeu-me, agradecidamente, que era islâmica, e que iria ver mal chegasse a casa.
Segurando as suas mãos,
disse-lhe, mais com o coração do que com as palavras, que éramos filhos do
mesmo Pai, e, acto contínuo, ouviu da minha boca as últimas palavras, que ela
já percebera que saíam do coração:
- Vá com Deus, minha querida! Vá com Deus!