segunda-feira, 24 de março de 2014

Saí e fui atrás dela

Hoje, no Metro, sentadas nos bancos contíguos, conversavam duas mulheres jovens. A que seguia de costas para mim expunha à outra os seus progressos na formação que estava a fazer. Vendo na sua interlocutora algum interesse, passou da simples informação à táctica da angariação.
A “presa” perguntou se se tratava de coisas esotéricas, demonstrando nisso algum interesse, facto que parece ter deixado a “angariadora” mais confiante. A partir dali, a jovem africana (pelo menos na origem) passou a ouvir repetidas vezes a palavra “fácil”. Tudo era muito muito fácil. Bastava a inscrição, e ficava automaticamente agregada à proponente.
Toda a informação lhe fora dada, até a questão do custo da inscrição, que era baixo, mesmo sendo a formação dada num hotel. Essa formação, que designava de workshop, era sobre Reiki, tendo ela já feito o nível 3. Interrogada se haveria outras coisas, disse que só em Maio haveria outros workshops sobre cristais.
A que estava a ser aliciada ia junto à janela, de frente para mim, o que me permitia, discretamente, apreciar sua fisionomia, suas expressões, enfim, aqueles traços que me levaram a concluir tratar-se de uma moça de bem. Esse facto mais ajudou à minha inquietação.
A dada altura, ainda me levantei para me sentar junto delas, para poder meter conversa, mas decidi voltar ao meu lugar.
A uma mocinha que se sentou em frente a mim, perguntei se tinha uma caneta que me emprestasse, e comecei a escrever num papel que trazia no bolso (um pequeno impresso alusivo à história do Santo Lenho). A intenção era entregar aquele papel, com a seguinte indicação: «Sobre o que lhe está a ser proposto, é importante que veja no youtube, o “Testemunho da Aldina”, mas, chegados à estação do Campo Pequeno, duas antes daquela onde eu ia sair, a que estava a ser aliciada para a iniciação no Reiki saiu.
Eu regressava ao trabalho após a hora do almoço, e, não obstante o já ir atrasado, ainda que se tratasse de um atraso autorizado, entreguei rapidamente a caneta e saí atrás dela. Abordei-a então, explicando-lhe aquela minha atitude, enquanto lhe mostrava a mensagem que não chegara a completar. Mas para que o mais importante dessa mensagem não ficasse apenas nas palavras, não fosse esquece-la, com uma caneta dela, completei-a.  
Os traços de bondade quase se liam naquele rosto sereno. Era, pois, em meu entender, uma presa fácil para o Mal que se esconde atrás de tantas coisas com toda a aparência de bem.
Explicando-lhe que perante factos desta natureza eu estaria muito errado se ficasse de braços cruzados, disse-lhe ainda que esse é um dos meus campos de batalha enquanto catequista. Ao lhe perguntar se era católica, respondeu-me, agradecidamente, que era islâmica, e que iria ver mal chegasse a casa. 
Segurando as suas mãos, disse-lhe, mais com o coração do que com as palavras, que éramos filhos do mesmo Pai, e, acto contínuo, ouviu da minha boca as últimas palavras, que ela já percebera que saíam do coração:
- Vá com Deus, minha querida! Vá com Deus!

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