sexta-feira, 26 de maio de 2017

Em festa o Bispo esperava pela sua imagem, mas Nossa Senhora foi visitar o Padre Pio



Quase todo o mundo conhece Nossa Senhora de Fátima. Quase todo o mundo já ouviu falar de São Padre Pio. Mas quantos sabem que o Padre Pio esteve uma vez severamente doente, de cama, e Nossa Senhora de Fátima fez-lhe uma visita para curá-lo?
O evento miraculoso aconteceu em 1959. Naquela primavera, a imagem de Nossa Senhora de Fátima tinha vindo de Portugal para visitar as capitais das províncias da Itália, em várias paradas. Viajando de helicóptero, a imagem de Nossa Senhora deveria seguir para Foggia, onde o bispo Paolo Carta tinha preparado uma recepção calorosa para a Santíssima Virgem. Mas houve um desvio na rota.
Mais tarde, em 1997, como bispo emérito, ele contaria essa história à fundação Voce di Padre Pio, falando um pouco sobre o amor de longa data que o Padre Pio sempre cultivou por Nossa Senhora de Fátima:
«Acho que posso afirmar que na metade de século que se seguiu, ninguém dentro da Igreja deu a Fátima uma resposta mais completa do que o Padre Pio. A ansiedade maternal do Imaculado Coração de Maria pelas almas que se precipitavam no inferno, invadiu profunda e completamente o coração do Padre Pio, que fez da sua vida inteira um grande sacrifício para que Nosso Senhor livrasse as almas da condenação eterna.»
O bispo sublinhou que, em Fátima, Nossa Senhora havia pedido especialmente pela oração do Rosário. "E quem poderia contar as horas que o Padre Pio passou a rezar pela conversão e salvação dos pecadores? E com que amorosa insistência ele não recomendava o Rosário a todos como meio de atingir a salvação?"
Além disso, o bispo também apontou para os incontáveis actos de mortificação, penitências e sofrimentos praticados pelo Padre Pio para salvar as almas do inferno, em resposta ao que Nossa Senhora havia pedido. "Esta resposta heróica do Padre Pio merecia um sinal de mimo materno de Nossa Senhora − e o sinal foi maravilhoso."
Para a imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima, vinda de Portugal, estava programada uma passagem pela grande cidade de Foggia, no começo de agosto. O mosteiro de San Giovanni Rotondo pertencia à diocese de Foggia, mas o Padre Pio estava severamente doente, acamado por conta de uma pleurite, desde o dia 5 de maio. Se estava impossibilitado até de celebrar a Santa Missa, quanto mais de peregrinar até Foggia!
"Mas poderia uma Mãe com um Imaculado Coração tão sensível e delicado não visitar seu filho mais querido, o Padre Pio?", conta o bispo Paolo Carta.
Por algum motivo, o itinerário mudou. A imagem não iria mais para Foggia, e sim para San Giovanni Rotondo. A alegria tomou conta dos ares enquanto as pessoas se reuniam em volta do mosteiro. Com a ajuda de um altifalante, o Padre Pio foi capaz de prepará-los para a chegada de sua Mãe, no dia 6 de agosto.
Naquela manhã, o Padre Pio conseguiu descer até a igreja e alcançar a imagem de Nossa Senhora − "mas teve que se sentar pois estava exausto", observou o bispo, e depois "ele deu a ela um Rosário dourado". " A imagem foi rebaixada diante do seu rosto e ele lhe deu um beijo. Foi um gesto de muito carinho."
Naquele mesmo dia, entre as duas e três da tarde, Nossa Senhora de Fátima estava mais uma vez no helicóptero, pronta para partir rumo ao seu próximo destino. Decolando da Casa Sollievo della Sofferenza − construída por ideia e inspiração do Padre Pio e inaugurada a 5 de maio de 1956 —, o helicóptero deu três voltas em torno do mosteiro antes de voar em direcção à sua próxima parada. (Nem o piloto da aeronave conseguiu explicar, depois, por que se deram aquelas voltas.)
O bispo Paolo Carta descreveu ainda como, "de uma janela, o Padre Pio viu o helicóptero voar para longe, com os olhos cheios de lágrimas. Para Nossa Senhora que estava no voo, o Padre Pio lamentou com uma confiança que era própria dele: 'Minha Senhora, minha Mãe, vieste à Itália e eu fiquei doente, agora te vais embora e me deixas doente ainda.'"
Mas, enquanto o helicóptero dava voltas no ar, ele sentiu um arrepio, uma "sacudida" em todo o seu corpo. O bispo repetiu, então, aquilo que o Padre Pio diria pelo resto de sua vida: " Naquele mesmo instante eu senti um tremor nos meus ossos que me curou imediatamente." O bispo acrescentou ainda as palavras do seu diretor espiritual, para confirmar o evento: "Num momento, o padre sentiu uma força misteriosa em seu corpo e disse aos seus confrades: 'Estou curado.' Ele estava forte e saudável como nunca antes na sua vida."
No livro Padre Pio, a Personal Portrait ("Padre Pio, um retrato pessoal", sem tradução para o português), publicado originalmente em 1978 e relançado recentemente, o frei Francesco Napolitano, que trabalhou com o santo de Pietrelcina, dá o seu próprio testemunho: "Eu estava presente no momento e posso atestar que o Padre Pio nunca se sentiu tão saudável como depois da partida da imagem de Nossa Senhora de Fátima."
Quando contaram ao santo frade que um artigo, no jornal de Foggia, perguntava o por que a imagem de Nossa Senhora de Fátima tinha ido a San Giovanni Rotondo, em vez de ir ao Santuário de São Miguel, no monte Sant'Angelo, também localizado em Foggia, o bispo Paolo Carta repete aquilo que o Padre Pio costumava responder, com muita simplicidade: " Nossa Senhora veio aqui para curar o Padre Pio."
Três dias após a visita da Virgem, ele estava de volta a celebrar a Santa Missa.
Sobre o porquê de Nossa Senhora de Fátima ter visitado o Padre Pio, o bispo Paolo Carta tinha a sua própria opinião:
Gosto de acrescentar que ela veio também por causa do exemplo de devoção ardente do Padre Pio. A sua recuperação prodigiosa iria despertar na Itália e no mundo um fervoroso aumento de amor e confiança no Imaculado Coração de Maria.
E a partir deste maravilhoso episódio nós devemos fazer uma santa resolução de sempre crescer nesta devoção, com uma resposta generosa à mensagem de Fátima, recitando fervorosamente o Rosário todos os dias, rezando e oferecendo os nossos sofrimentos pela conversão dos pecadores, e recebendo a Comunhão nos primeiros sábados de cada mês, na esperança de que estas palavras consoladoras se tornem verdade para nós: 'A quem abraçar esta devoção, prometo a salvação, e serão queridas de Deus estas almas, como flores postas por Mim a adornar o Seu trono.'
A promessa da Virgem de Fátima é que as almas por ela queridas seriam como "flores". Pela resposta que deu às suas mensagens e pedidos, no entanto, o Padre Pio está mais para um ramalhete inteiro.

quarta-feira, 10 de maio de 2017

O diabo não está em todos os lugares, mas… não o desafiem!


Entrevista exclusiva com o padre exorcista César Truqui
É preciso confessar: exorcismo e possessão diabólica, no geral, despertam em nossa mentalidade uma reacção entre fascínio e aberta descrença. Coisa de filme, pensamos. Mas a prática de exorcismo é regulada pela Igreja com o ritual De exorcismis et supplicationibus quibusdam, adotado em 1998 em substituição do anterior (que também pode continuar sendo usado). Suas bases são a Sagrada Escritura e a teologia. É um assunto delicado, que precisa ser tratado com prudência por sacerdotes preparados e equilibrados (“ornados de piedade, ciência, prudência e integridade de vida”), expressamente autorizados pelo seu bispo.
Aleteia conversou com o Pe. César Truqui, mexicano, hoje exorcista na diocese de Chur, na Suíça. Ele foi a Roma como palestrante no XI Curso “Exorcismo e Oração de Libertação”, do Ateneu Pontifício Regina Apostolorum em parceria com o Grupo de Estudos e Informação Sócio-Religiosa de Bolonha e com a Associação Internacional de Exorcistas.
Confira a entrevista.
Aleteia: Que tipo de mal é enfrentado num exorcismo?
Pe. Truqui: Um mal personificado. Paulo VI falou da “fumaça de Satanás”. Não é a simples “privatio bonis”, privação de um bem, descrita pela filosofia, mas um mal eficaz, operante. Falamos da presença de um ente mau. O que é esse ente mau só a fé pode dizer, não a ciência. A fé nos fala da existência de seres espirituais: os bons são os anjos, os maus são os demónios.
O mal, entendido como uma entidade que se apossa fisicamente de alguém, é um pouco difícil para as pessoas aceitarem, não?
Pe. Truqui: Sim, é verdade, porque normalmente, na vida, não se tem esse tipo de experiência. Pelo ministério que eu exerço há tantos anos, tive a oportunidade de estar com essas pessoas e, para mim, é mais fácil acreditar que certos fenómenos existem.
Como o senhor começou?
Pe. Truqui: Foi coisa da Providência. Quando eu fui ordenado sacerdote, 12 anos atrás, participei de um curso com sacerdotes exorcistas como o Pe. Bamonte e o Pe. Amorth. E aconteceu que um senhor francês de 40 anos foi possuído por Satanás e precisava do exorcista, mas o Pe. Bamonte não falava inglês nem francês. Então eles me pediram para ajudá-los no diálogo preliminar.
Quais são as sensações que o senhor experimenta diante da manifestação do mal?
Pe. Truqui: São sensações que mudam com o tempo. Nas primeiras sessões de exorcismo em que eu participei, a impressão mais forte foi a confirmação tangível de que o Evangelho que eu tinha lido e meditado era verdadeiro. No Evangelho, Jesus luta contra o diabo que se apresenta com diversos nomes: “meu nome é Legião, meu nome é Satanás”. No Antigo Testamento, no livro de Tobias, há um demónio chamado Asmodeu. Esses nomes eu já ouvi de demónios em várias sessões de exorcismo. No nível espiritual, tem sido uma experiência muito rica porque me permitiu experimentar na carne, através dos sentidos, a realidade de que Jesus falou.
E no nível tangível?
Pe. Truqui: No caso do homem francês, eu me lembro que, durante a manifestação do diabo, eu tinha a impressão de estar envolto pela soberba, como se fosse fumaça ou neblina. É difícil de explicar, mas a soberba parecia algo que podia ser tocado; ela enchia a sala. O exorcista perguntou o nome dele e ele respondeu: “Sou rex”. Não existe um demónio chamado “rex”, rei. O exorcista insistiu: “Diga o seu nome”. E ele finalmente respondeu: “Eu sou Satanás, o príncipe deste mundo”.
Por que se pergunta o nome?
Pe. Truqui: O ritual exige isso por um objectivo preciso. Dar o nome a uma coisa ou saber o nome significa ter poder sobre essa coisa. Deus deu a Adão o poder de dar nome às coisas. No momento em que o diabo revela o seu nome, ele mostra que está enfraquecido. Se não diz, ele ainda está forte.
Há sinais típicos da possessão?
Pe. Truqui: Os previstos pelo ritual. São quatro: a aversão ao sagrado, falar línguas desconhecidas ou mortas; ter uma força extraordinária que vai além da natureza da pessoa; e o conhecimento de coisas ocultas, escondidas.
As pessoas podem, elas mesmas, se colocar em condições de perigo?
Pe. Truqui: Sim. Aproximando-se de tudo o que tem a ver com magia, ocultismo, bruxaria, cartomancia. Se para nos tornarmos santos é preciso ir à missa, rezar, se confessar, se aproximar de Deus, do mesmo jeito as missas negras, os ritos satânicos, os filmes e músicas desse tipo têm o efeito de aproximar do diabo. Eu tive o caso de uma mulher que tinha começado a ler as cartas, como fazem muitos por brincadeira. Só que ela adivinhava realmente o passado e o presente das pessoas, e, em alguns casos, o futuro. E, naturalmente, ela fazia um grande sucesso. Em certo ponto, ela compreendeu de quem dependia o seu sucesso e parou, mas já era tarde demais: ela estava possuída.
Como é possível “encomendar trabalhos” voltados para o mal?
Pe. Truqui: Da mesma forma que eu posso contratar alguém para matar uma pessoa, eu posso pedir que um demónio provoque um dano. Mas atenção: a esmagadora maioria dos ritos realizados por quem se diz bruxo é enganação, não tem qualquer efeito.
Basta um exorcismo para livrar a pessoa?
Pe. Truqui: É dificílimo. Normalmente, são necessários vários exorcismos.
Funciona como uma terapia?
Pe. Truqui: Sim. O exorcismo é um sacramental, não um sacramento. O sacramento é eficaz em si mesmo. Se eu dou a alguém a absolvição na confissão, naquele momento, verdadeiramente, os pecados dessa pessoa são perdoados. Já o exorcismo é eficaz na medida da santidade do sacerdote, da fé da pessoa para quem é realizado o exorcismo e de toda a Igreja. Se hoje os exorcismos são menos eficazes, é porque toda a Igreja está mais fraca.
Qual é a diferença entre exorcismo e oração de libertação?
Pe. Truqui: Ambos têm o mesmo objectivo: a libertação da pessoa da influência do mal ou da possessão. O exorcismo em sentido próprio é um ministério dentro da Igreja, conferido pelo bispo a alguns sacerdotes. Só pode ser exercido por sacerdotes, não por leigos, e só pelos que têm uma permissão explícita do bispo. Já a oração de libertação pode ser feita por qualquer pessoa, homem ou mulher, leigo ou sacerdote, em virtude do nosso cristianismo, porque Jesus disse: “Quem crê em mim expulsará os demónios”. O exorcismo, além disso, é um comando directo ao demónio, enquanto a oração de libertação é uma súplica a Deus ou à Virgem Santíssima, para que ela intervenha.
Quantas pessoas que procuraram o senhor estavam realmente possuídas?
Pe. Truqui: Pouquíssimas.
E por que elas acham que estão possuídas?
Pe. Truqui: Entre as pessoas que vêm até mim, eu distingo três casos: o verdadeiro possuído, o não possuído e o caso problemático. O primeiro e o último são os mais fáceis: você sabe que se trata de um verdadeiro possuído porque ele manifesta os quatro sinais e porque, quando você faz as orações, a pessoa entra em transe e reage de um modo que o exorcista conhece. Poderia ser fingimento, mas é difícil. No segundo caso, com a experiência de sacerdote e confessor, você percebe quando há problemas espirituais ou psicológicos e pode descartar a influência diabólica. O problema é quando você encontra alguém que parece realmente possuído, mas não está, porque existem traumas profundos acompanhados de comportamentos de risco, tais como participar de sessões espíritas ou recorrer a cartomantes. Eu conheci uma moça que foi estuprada por um homem que se dizia “mago latino-americano” e que tinha se apaixonado por ela. Um dia ele deu a ela um café com alguma droga e a violentou: ela estava consciente, mas não conseguia reagir. Esse trauma enorme a fez pensar na possessão diabólica por meio da droga ingerida e da violência sofrida. Eu pensei que ela estivesse mesmo possuída. Mas quando orei e lhe impus as mãos durante o exorcismo, ela nunca entrou em transe, nem havia traço de outros fenómenos. Então eu percebi que a causa era outra. É por isso que, nos cursos para exorcistas, abordamos quadros médicos e psiquiátricos que podem entrar em jogo nessas situações.
As pessoas realmente possuídas, como elas vivem?
Pe. Truqui: Elas vivem de maneira comum. O diabo não age continuamente nelas. Vou fazer uma comparação paradoxal para tentar explicar: se uma pessoa compra um carro, aquele carro fica à disposição dela, ela o usa quando quer. Acontece o mesmo com a pessoa possuída. Há momentos em que o diabo age: ele entra no carro e dirige do jeito que quer. E há outros momentos em que não. O carro tem um dono, mas o dono não o usa o tempo todo.
Quando é preciso procurar um exorcista?
Pe. Truqui: Quando o que acontece com você escapa do normal. Eu conheci uma senhora em Roma que era ateia, uma católica só baptizada, que não acreditava em nada. Ela foi possuída, não sei em que circunstâncias. Começou a ouvir vozes continuamente, que a incitavam a matar o marido e o filho e depois tirar a própria vida. Ela pensou que estava louca e foi procurar um psiquiatra, mas ele se viu diante de uma pessoa muito inteligente, coerente e com muita clareza de ideias. O psiquiatra não pôde curá-la. Um dia, as traças tinham comido todas as roupas daquela mulher, mas sem tocar nas do marido, que estavam no mesmo armário, nem nas do filho. E não foi encontrada traça nenhuma na casa. Algo inexplicável. Uma amiga aconselhou a mulher a procurar o padre Amorth e ele descobriu que ela estava possuída. Mas ela não acreditava nem nos anjos nem nos demónios. Agora ela é uma cristã praticante. Por que Deus permite isso? Também para o bem das pessoas.
O senhor teve a oportunidade de perguntar a alguém quais foram as suas sensações durante o exorcismo?
Pe. Truqui: Eu perguntei àquele senhor francês, de quem já falamos, o que ele tinha sentido durante o exorcismo e ele me disse que sentia como se dentro dele houvesse um campo de batalha. De um lado, ele sentia os demónios correrem desesperados e falarem entre si; por outro, quando o padre rezava, ele sentia a luz de Deus que os varria para fora, mas, em seguida, eles voltavam de novo.
Qual foi o caso que mais o impressionou?
Pe. Truqui: A experiência de um demónio mudo. Jesus fala disso no Evangelho e diz que eles são os mais difíceis de expulsar e que eles só saem com a oração e o jejum. É uma raridade um demónio mudo. Em 12 anos de exorcismo, só me aconteceu uma vez.
O senhor nunca tem medo?
Pe. Truqui: No início, eu tinha. Depois habituei-me também a certas manifestações e não me surpreendi mais ao ouvir uma voz que muda: uma mulher que começa a falar com voz fina e de repente passa para um tom cavernoso. É preciso ficar atento para não cair na obsessão pelo maligno. O exorcista sabe que o diabo existe, mas também que ele não está em todos os lugares. Eu entendi, acima de tudo, que o exorcismo é um ministério de misericórdia: um ato de amor por uma pessoa que sofre. Só isso.
Fonte: Aleteia

quarta-feira, 3 de maio de 2017

Carta enviada a duas catequistas



Queridas L. e K.,
Como vos tinha dito que havia de vos enviar um mail a dar conhecimento de um problema de um dos catequizandos do vosso grupo, eis o que deveis saber sobre o L. Para que melhor possais lidar com a situação e ao mesmo tempo fazer essa importante catequese para os demais catequizandos, devo informar-vos que ele, em seus treze anos, foi aconselhado, nas consultas de psicologia, a assumir-se sem problemas como homossexual, porque, segundo a psicóloga, deve seguir o que o seu coração sente…
Vós sabeis como eu que nada permanece sólido se não for criada primeiramente uma base segura. E nesta questão da homossexualidade,
- Quando parece já não haver telenovelas – e tantas outras séries e programas que concorrem para o mesmo – em que não seja inteligentemente apresentada a questão como sendo algo normal,
- Quando os próprios profissionais de saúde a procuram justificar de uma ou de outra forma,
- Quando dentro da própria Igreja se vêem posições de tolerância, por se confundir o que deve ser a visão a ter do pecador e a posição em relação ao pecado, maior tem que ser o cuidado a ter na preparação de uma catequese destas, aliás, como deve ser em todas as catequeses. Preparai, pois, com todo o cuidado, esta questão doutrinal, para que a catequese possa ser o eco da Palavra de Deus na inteligência e no coração dos vossos catequizandos.
Queridas irmãs em Cristo, quando digo para fazerdes eco da Palavra de Deus, sabeis bem o que isso implica, que é o esvaziardes-vos de vós mesmas, ou seja, das vossas ideias, para que, pela oração, a Palavra entre primeiramente no vosso coração e dele saia clara e de forma cativante para a inteligência de quem a recebe. Só assim é que ela pode chegar ao coração daquele que a ouve e aí se transformar em Dabar, que é como dizer, ser geradora da acção que o Senhor espera de cada um de nós.
Uma alma enamorada por Deus procura, também nos acontecimentos, perscrutar o Coração Amorosíssimo do Pai, condição sine qua non para se poder falar das coisas d’Ele garantindo maior fidelidade à Sua Divina Vontade. Pode à primeira vista parecer-nos algo muito difícil, isso de perscrutar o coração de Deus, dada a limitação imposta por toda a azáfama do nosso quotidiano, pensando que só numa vida monástica poderíamos ter as condições favoráveis. Sendo porém desejo de Nosso Senhor que não desviemos o olhar e o coração dessa dimensão contemplativa ao mesmo tempo que vivemos a condição secular, é não só possível mas um dever nosso o procurarmos viver uma cada vez maior intimidade com Deus Pai. E a prova de que não é tão difícil assim chegar a essa intimidade com Deus vivendo uma vida normal, temo-la no exemplo de tantos santos que enchem as páginas dos livros que nos falam das suas biografias. Se nos debruçarmos sobre o que foi a vida de muitos deles vemos que o que os levou à santidade não foram feitos de grande heroicidade, mas uma vida onde nunca faltou a oração, o amor à Eucaristia e o despojamento de si próprios, condição esta sem a qual ninguém consegue ter espaço para acolher a pedagogia de Deus. E sem ela, fazemos a nossa, cujo resultado é aquilo que se vê.
Num tempo e numa sociedade onde tudo constitui apelo à promoção pessoal em ordem à afirmação, a rejeição dessa virtude evangélica do negar-se a si próprio criou um problema que tem vindo a agudizar-se nas últimas décadas, na medida em que esse tal espaço, que deveríamos manter arejado a ponto de nele se respirarem só os mais celestes odores e tê-lo reservado apenas à Palavra de Deus, tem vindo a ser preenchido pelo enriquecimento de espírito – é sobre isto que Jesus fala: bem-aventurados os pobres em espírito – e por ideias trazidas para o interior da Igreja por novas correntes de pensamento, correntes essas condenadas em vários documentos pontifícios, desde S. Pio X a Bento XVI, passando por S. João Paulo II.
Queridas amigas, para estas idades dos 13-14 anos, pese embora a dificuldade já visível em muitos deles, urge sermos misericordiosos na verdade. E a verdade está em Deus, não há outra. Por mais teses teológicas que possamos ouvir, para termos a garantia de que seguimos a Vontade de Deus basta que façamos o exercício de, espiritualmente, nos colocarmos no meio das pessoas a quem Jesus falou – atitude interior possível pela leitura/oração dos relatos feitos pelos Apóstolos. E aí o que é que ouvimos de Jesus acerca da interpretação da Lei? Uma coisa muito simples: que ela foi dada ao Homem para lhe servir de espelho onde se reflectem ao mesmo tempo a justiça e a misericórdia de Deus. Sobre a misericórdia disse-nos que a salvação é para todo o pecador que se arrepende e deixa o pecado; já sobre a justiça Jesus nunca foi de meias palavras. Ela recairá sem piedade até mesmo sobre aqueles que parecem estar mais próximos d’Ele mas não o estão de coração. É tão duro que, aos que agora designamos de “politicamente correctos”, por Ele classificados como mornos por não serem nem quentes nem frios, diz que os vomita (Cf. Ap 3, 15-16). E se dúvidas se levantam quanto à actualidade da antiga Lei, o Verbo de Deus feito carne também é muito claro quando diz que não veio para a abolir, porque, sendo ela perfeita – porque o legislador é Deus – é para vigorar por todos os séculos, dizendo mesmo que é mais fácil que o céu e a terra passem do que cair um só assento da Lei (Cf. Mt 5,17-18).
Como Deus criou o homem e a mulher à Sua imagem e semelhança, divinizando-os, portanto, Satanás e o seu séquito nunca pouparam esforços para ludibriarem os planos de Deus, fazendo troça da Sua obra. Suscitaram então nos homens o desejo por outros homens, e nas mulheres o desejo por outras mulheres. E como é que o Diabo consegue fazer com que as pessoas se tornem perversas, nesse e em muitos outros sentidos? Explorando sem descanso a fraqueza ou fraquezas que encontra em cada um, sendo mais bem-sucedido quanto mais afastada a pessoa se mantém da prática dos sacramentos, principalmente da Eucaristia e da Penitência (confissão). E quando ele encontra na vida da pessoa um espaço que não esteja trancado com a oração e a prática dos sacramentos, apodera-se desse espaço e, a partir daí, montando nele o seu posto de comando procura estender o seu domínio sobre as restantes áreas da vida da pessoa. Ora, sendo o Homem um ser espiritual, com necessidade de equilíbrio a esse nível, ao não praticar a espiritualidade Cristã que emana do tesouro confiado à Santa Igreja Católica, cria a oportunidade para que o Maligno semeie no seu coração as sementes do seu reino, nascendo daí o desejo de encontrar algo que o preencha.
Este é um fenómeno que atravessa toda a história da humanidade, quando o homem deixa de se colocar diante do Criador com um coração de criança. E sem o influxo da graça em sua alma volta-se para os ídolos e para o ocultismo. Mas os que não seguem esses caminhos não deixam de estar sobre o mesmo domínio, pois, àqueles que não são tão dados às coisas da espiritualidade, é-lhes sugerido o hedonismo e outras irresistíveis tentações. Por isso, à semelhança dos tempos bíblicos, hoje como outrora, o homem deixa de sentir necessidade de Deus. É então que os demónios fazem festa, pela maior ascendência que exercem sobre todos os que deixaram ofuscar sua inteligência.
Falando exactamente sobre este problema, sobre os que voltaram costas a Deus e procuraram seus ídolos e que por isso viriam a cair nas malhas de Asmodeu – o demónio da impureza –, diz São Paulo aos Romanos: «Foi por isso que Deus os entregou a paixões degradantes. Assim, as suas mulheres trocaram as relações naturais por outras que são contra a natureza. E o mesmo acontece com os homens: deixando as relações naturais com a mulher, inflamaram-se em desejos de uns pelos outros, praticando, homens com homens, o que é vergonhoso, e recebendo em si mesmos a paga devida ao seu desregramento. Esses, muito embora conheçam o veredicto de Deus - de que são dignos de morte os que tais coisas praticam - não só as fazem, como até aprovam os que as praticam» (Rm 1, 26-27.32).
Amadas filhas do Altíssimo, como dizia anteriormente, sede misericordiosas na verdade, isto é, ter caridade para com os que vivem no erro ajudando-os a libertarem-se dele, sabendo porém que para isso não se pode nunca fugir à verdade; não à nossa, mas à de Jesus Cristo, à do Senhor do Céu, da Terra e de todo o Universo. Questionar a Sagrada Escritura é pecado gravíssimo, ainda mais depois de o Próprio Senhor Jesus dizer que nada na Lei pode ser mudado, e quando essa Lei diz claramente: «Se um homem coabitar sexualmente com um varão, cometeram ambos um acto abominável; serão os dois punidos com a morte» (Lv 20, 13).
Para além deste, que foi o motivo desta carta, há porém vários outros “fogos” a apagar, ateados que foram pelos demónios precisamente nos jardins da humanidade, que são as crianças e os adolescentes. Um desses grandes fogos ao qual não está a ser dada a devida importância é o da sensualidade, a grande porta para o reino de Asmodeu. Bem Nossa Senhora dizia aos Pastorinhos que iriam chegar umas modas que muito ofendem Nosso Senhor. E o que é o pecado senão a ofensa a Deus? Mas hoje, para maior sofrimento de Nossa Mãe Bendita e da Trindade Santíssima, tanto nas famílias como na própria Igreja fecham-se os olhos ao sofrimento de Nosso Senhor, permitindo que as flores do jardim de Deus – crianças e adolescentes – sejam  expostas desde muito cedo à cobiça de olhares não-sãos. E depois queixam-se das violações…
Um outro desses graves “fogos”, que a mim me entristece tão profundamente – como não ficará Nosso Senhor… –, é o ver que todas as crianças e todos os adolescentes, quando na hora de catequese durante a semana estão na Santa Missa com os seus catequistas, se colocam na fila para receberem o Santíssimo Corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo. A esse propósito diz-nos Ele que, todo aquele que se abeira da Comunhão sem estar em estado de graça é réu do Corpo e Sangue de Jesus e está a receber a sua própria condenação (Cf. 1Cor, 27-29). Mesmo que outro impedimento não tivessem, a forma de vestir da maioria já é motivo bastante para nem na igreja poderem entrar, quanto mais para receberem Nosso Senhor. Não há quem tenha piedade destas almas? Não há pais, não há catequistas, não há padres?
Amadas irmãs em Cristo, que desta já longa carta vos fique o encorajamento a serdes os sapadores de Deus na área que Ele vos confiou, combatendo com valentia a parte que vos cabe nos fogos que o Inferno ateou por todo o lado. Sede corajosas, e lembrai-vos das promessas de Nossa Senhora: «Por fim o meu Imaculado Coração triunfará», sabendo que para isso Ela conta convosco relativamente às almas que tendes ao vosso cuidado. Gritai bem alto no coração dessas crianças as palavras do Senhor: «Ao que vencer, farei que se sente comigo no meu trono (Ap 3, 21a).
Convosco louva o Altíssimo,                             

       (Assinado)