quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Testemunha da existência da rede clandestina de Pio XII

No seguimento do "post" anterior, transcrevo agora, integralmente, este outro texto da Agência ZENIT, depois de alguns ajustamentos para o Português de Portugal.


ZP10011413 - 14-01-2010Permalink: http://www.zenit.org/article-23795?l=portuguese

A "prova viva" da existência da rede clandestina de Pio XII em auxílio dos judeus

Entrevista com um de seus membros, o padre Giancarlo Centioni
Por Jesús Colina

ROMA, quinta-feira, 14 de Janeiro de 2010 (ZENIT.org).- Alguns setores da opinião pública têm pedido, em semanas recentes, provas da ajuda oferecida por Pio XII aos judeus durante a perseguição nazista. O sacerdote italiano Giancarlo Centioni, 97 anos, é uma das provas vivas, já que é o último membro vivo da rede clandestina criada pelo Papa Pacelli.

Entre 1940 a 1945, Centioni foi capelão militar em Roma na Milícia Voluntária pela Segurança Nacional, tendo vivido com sacerdotes alemães da Sociedade do Apostolado Católico. “Na condição de capelão fascista, era mais fácil para mim ajudar os judeus ", disse ele, explicando por que foi escolhido para participar da arriscada operação.

“Meus colegas sacerdotes palotinos provenientes de Hamburgo tinham fundado uma sociedade denominada "Verein Rafael '(Society of San Raffaele), criada para prestar auxílio aos judeus", revelou.

Um dos objetivos da rede era dar suporte à fuga de judeus da Alemanha, através da Itália, em direção à Suíça ou Portugal, motivo pelo qual a rede contava com membros nos quatro países.
Na Alemanha, lembra o padre Centioni, a sociedade era dirigida pelo padre Josef Kentenich, conhecido em todo o mundo como o fundador do Movimento Apostólico de Schönstatt.

Posteriormente, este sacerdote acabou sendo preso e mantido num campo de concentração até o final da guerra.

“Em Roma, o líder de todas estas atividades era o padre Anton Weber, o qual tinha contato direto com Pio XII e sua secretaria”, explicou.

Uma das principais atividades da rede consistia em obter passaportes para que as famílias judias pudessem deixar a Alemanha.

“Estes passaportes eram obtidos diretamente da Secretaria de Estado de Sua Santidade, pela intervenção direta do próprio Pio XII”, acrescentou.

“Comigo atuavam ao menos 12 sacerdotes alemães em Roma”, prosseguiu o padre, explicando que a rede recebia também uma ajuda decisiva da polícia, em particular do chefe adjunto de Mussolini, Romeo Ferrara, que lhe informava o local onde estavam escondidas as famílias judias para que pudessem levar os passaportes " – “mesmo à noite”.

Padre Centioni lembra uma dessas ocasiões, em que o policial o enviou durante a noite, advertindo-o para ir vestido com os trajes de Capelão para que “não fosse preso por soldados alemães”, a uma casa na qual estava escondida uma família judia de nome Bettoja.

O sacerdote diz lembrar “nitidamente” do medo e das dificuldades na operação, inclusive por parte das famílias que ajudava. “Bati à porta, mas não quiseram abrir. Disse então que não temessem, pois era um capelão e vinha para ajudar, para trazer os passaportes”; “juro, vocês podem ver através do olho-mágico da porta”, e então foi finalmente recebido pela senhora Bettoja com as crianças.

“Disse a ela: saiam amanhã antes das 7 em seu automóvel, porque às 7 poderão cruzar a fronteira pelo Lácio em direção a Gênova”. Fugiram e se salvaram. “Foi uma das tantas famílias”, disse.

As atividades da rede se iniciaram antes mesmo da invasão alemã na Itália, lembra o padre Centioni, e prolongou-se "até onde eu sei, até depois de 45, porque as relações do padre Weber com o Vaticano e os judeus eram muito vivas”.

"Entre aqueles que posteriormente colaboraram conosco, havia dois judeus que escondemos: um homem de letras, (Melchiorre) Gioia, e um grande músico e compositor de Viena, autor de canções e operetas, Erwin Frimm”.

“Todas pessoas de coragem”, disse. “Nos ajudaram muito com informações precisas” - reconheceu” – “mesmo colocando sua própria vida em risco”.

“Ajudei Ivan Basilius, um espião russo, que eu não sabia que era russo nem espião; era judeu. Foi preso pela SS e nas revistas, encontraram meu nome em suas anotações. Então, convocou-me a Santa Sé, sua excelência Hudal [alto e influente prelado alemão em Roma], dizendo: “venha para cá, pois a SS quer prendê-lo”. Perguntei: “Mas o que fiz?” - “Você ajudou um espião russo”. “Eu? Quem é?” - Então escapei.

Pe. Centioni, como capelão, conheceu pessoalmente o oficial alemão Herbert Kappler, comandante da Gestapo em Roma e autor do massacre das Fossas Ardeatinas, no qual 335 italianos foram assassinados, entre os quais muitos civis e judeus.

“Durante a invasão alemã, logo após a carnificina, perguntei a Kappler, a quem via com freqüência: por que não chamaram os capelães militares para as Fossas Andreatinas? E ele me respondeu: porque teria eliminado também eles”.

Pe. Centioni assegura que as centenas de pessoas que pôde ajudar tinham conhecimento de quem estava por trás de tudo. “Quem os ajudava era o Papa Pio XII, por meio de nós sacerdotes e da Raphael's Verein”, e através dos Verbitas, sociedade alemã em Roma. A entrevista foi concedida à Agência ZENIT e à Agência H2ONews (http://www.h2onews.org/) e publicada nesta quinta-feira.

O caso do padre Centioni foi descoberto e investigado pela fundação Pave the Way (http://www.ptwf.org/), criada pelo judeu nova-iorquino Gary Krupp.

Os relatos de Centioni são corroborados pela condecoração a ele concedida pelo governo polaco (“a cruz de ouro com duas espadas”, “pela nossa e pela vossa liberdade”).

O sacerdote citou outras expressões de gratidão por parte de algumas das pessoas que ajudou: os senhores Zoe e Andrea Maroni, os professores Melchiorre Gioia e Aroldo Di Tivoli, e as famílias Tagliacozzo e Ghiron, cujos filhos puderam se salvar, alcançando os EUA, com passaportes e recursos disponibilizados pelo Vaticano.

A entrevista pode ser assistida no site: http://www.h2onews.org/.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Destacado judeu rende homengem a João XXIII

Depois de muitas críticas já se terem ouvido por alegado silêncio da Igreja Católica em relação ao sofrimento do povo judeu no século XX, impõe-se-nos que atendamos à opinião de um digno representante desse povo irmão. Para o efeito, transcrevo na íntegra o artigo publicado pela ZENIT no primeiro dia deste ano de 2010. Vale a pena repensar a forma como aceitamos ideias veiculadas pela maledicência que quase sempre procura encobrir-se com a capa da seriedade.

ZP10010103 - 01-01-2010Permalink: http://www.zenit.org/article-23687?l=portuguese

Homenagem de um candidato ao Nobel da Paz, judeu, a João XXIII

Baruj Tenembaum, um “descendente de escravos”

ROMA, sexta-feira, 1 de janeiro de 2010 (
ZENIT.org).

Entre os primeiros candidatos ao prêmio Nobel da Paz, atribuído este ano ao presidente Barak Obama, encontrava-se Baruj Tenembaum, criador da Fundação Internacional Raoul Wallenberg.

ZENIT perguntou a Tenembaum, judeu de origem argentina, pioneiro do diálogo inter-religioso deste os tempos de Paulo VI, por que, segundo ele, tanto interesse por sua figura e obra.

“Quem sou eu?”, pergunta-se com simplicidade Tenembaum. “Não me referirei concretamente ao sucedido pois não me considero tão importante”.

“Concretamente, sou descendente de escravos, daqueles judeus que trabalharam no Egipto sob o jugo dos faraós, e que foram libertados por Moisés.”


“Sou tão judeu como os que foram expulsos de Jerusalém quando se destruiu o Primeiro Templo, e logo o Segundo”, segue explicando.

“Tão judeu como meus irmãos que foram expulsos de Portugal e da Espanha”, “como os que foram perseguidos na Europa”, “como aqueles seis milhões aniquilados pelos Hitlers, no plural”.

“Sou um simples filho de colonos que dedica sua vida a agradecer aqueles seres humanos que salvaram vidas, que se arriscaram. Os Wallenberg, Souza Dantas, Sousa Mendes, mais de 20.000 gentios, não judeus, a quem devemos gratidão, recordação, a educação a nossos descendentes.”

Deste modo, confessa, pôde descobrir nos arquivos o alcance da figura de Angelo Roncalli (João XXIII), que durante a Segunda Guerra Mundial, sendo representante diplomático de Pio XII em vários países, realizou uma corajosa obra de ajuda a judeus perseguidos.

“Não podemos deixar de nos emocionar com lágrimas que escapam dos olhos quando nos inteiramos das acções que esse filho do povo italiano, simples, humilde, grande, executou em circunstâncias totalmente adversas para salvar, por exemplo, crianças expostas à sombra do inferno; rompendo, destruindo preconceitos, indo além do que supõem ou indicam as regras.”

“A cada momento imaginamos Roncalli rezando, também na presença de terceiros, pedindo a seu chofer que se detenha em frente à sinagoga de Roma para rezar ‘por meus irmãos judeus’”, explica Tenembaum.

“Ou quando recebeu no Vaticano um delegação de judeus, levantou seus braços e exclamou desde a cadeira papal, citando a Bíblia: ‘Sou José, vosso irmão’”.

“Então, novamente: quem sou eu? O que sobrevive, o que fica; o importante, o nobre é destacar o que ‘sobre-vive’, por exemplo: Angelo Roncalli”.