Lisboa, 10 de Fevereiro de 2007
Meu querido irmão,
Já perdi a conta aos anos que já passaram sem me dirigir a ti por escrito. Se não me engano, nunca mais o terei feito desde que, juntamente com a mãe, te escrevia duas letrinhas nos aerogramas que recebias no ultramar.
Na altura, o recebermos um aerograma teu e o enviar-te outro, para o qual muitas vezes a mãe me avisava de que estava a escrever-te, convidando-me a dizer-te também qualquer coisa, era para mim um acto religioso, talvez mais sentido interiormente como tal, pela falta de capacidade de expressar pela escrita o amor e a saudade que tinha do meu “Caia”, como dizia quando começava a pronunciar as primeiras palavras. Agora que já sou pai há quase vinte e dois anos, reconstituindo em minha memória tantos momentos de então, vejo com grande clareza a importância, a grandeza e, diria mesmo a qualidade de sentimentos que ocupavas no coração da mãe. Relembrando esses momentos, é com grande emoção que sou obrigado a afirmar: Como a nossa mãe te amava, meu querido irmão!..
No passado Domingo, numa sessão de esclarecimento na minha Paróquia para que ninguém tivesse dúvidas quanto à posição da Igreja relativamente às questões a referendar amanhã, intervindo, agradeci a Deus e aos nossos pais por eu poder estar a falar aos presentes, dado que eu já era o 12º filho, tentando com isso refutar esse conceito tão puramente materialista, do não poder-se hoje ter mais do que um ou dois filhos, por não haver condições...
Que grande legado os nossos queridos pais nos deixaram, quando na sua escala de importância para nós, seu maior desejo sempre foi o de que fossemos bons. Hoje podemos entender quão grande pedagogo e psicólogo, chegando mesmo a brincar com a filosofia, foi nosso querido pai. Mais de vinte anos passados desde que nos deixou, ainda algumas vezes me ocorrem lágrimas pela tão grande saudade do seu ar brincalhão, da sua Sabedoria, do seu sorriso, enfim, do nosso tão amado pai. Bem que nos podemos sentir abençoados pelos pais que tivemos, e entre nós, sentirmos que foram uns pais modelo, segundo os parâmetros cristãos.
Desse grande legado ou riqueza que nos deixaram, faz parte a preocupação que temos uns pelos outros, que não é mais que o fruto do amor que vivemos. Aquelas situações em que nas férias, quando estamos juntos, dificilmente seguimos o que fora anteriormente planeado, porque um de nós ficou impossibilitado e tem que ir a outro lado, acabando por tudo ser modificado, só pode mesmo acontecer numa família como a nossa, porque, embora todos estejamos bem com a família que cada um constituiu, só nos sentimos completos tendo os irmãos connosco. E dado que há anos em que isso apenas é possível por três ou quatro dias, maior é a necessidade que temos uns dos outros, necessidade que passa por manifestações tão simples de amor, como sendo por vezes uma brincadeira ternurenta, o termos que “andar sempre aos beijinhos”, como por vezes dizem alguns cunhados, etc.
Depois de tudo isto, é legítimo que te perguntes do porquê de nem uma visita nem um telefonema, desde que no outro dia soube o que te tinha acontecido.
O telefonema, é para mim pouco válido para estas coisas, porque tenho necessidade de estar mesmo junto da pessoa. E depois também uma outra razão pela qual ainda não o fiz, foi por querer surpreender-te pessoalmente. Mas infelizmente, um dia é uma coisa, outro dia é outra, e o tempo tem passado, até que decidi pôr-me a escrever-te duas palavrinhas, para te dizer que muito te tenho envolvido de amor em oração, meu amado irmão. E ainda que ao mundo possa parecer o contrário, por não te ter ainda visitado, esse amor que nossos pais nos deixaram como herança e que eu procuro alimentar pela prática dos Sacramentos, tem um tal volume em mim, que, só enquanto escrevia este texto, fui obrigado a várias pausas para reparar os diques da emoção, por se revelarem demasiado fracos para suster a força do caudal do amor de irmão para irmão.
Que esta e a verdadeira força do Amor te envolvam, e que de lá do Céu, onde estou certo nossos pais nos estão a amar de uma forma bem diferente, recebas todos os dons necessários para só desejares o Amor.
Teu irmão que tanto te ama, ainda que de uma forma imperfeita,
Zé Augusto
Meu querido irmão,
Já perdi a conta aos anos que já passaram sem me dirigir a ti por escrito. Se não me engano, nunca mais o terei feito desde que, juntamente com a mãe, te escrevia duas letrinhas nos aerogramas que recebias no ultramar.
Na altura, o recebermos um aerograma teu e o enviar-te outro, para o qual muitas vezes a mãe me avisava de que estava a escrever-te, convidando-me a dizer-te também qualquer coisa, era para mim um acto religioso, talvez mais sentido interiormente como tal, pela falta de capacidade de expressar pela escrita o amor e a saudade que tinha do meu “Caia”, como dizia quando começava a pronunciar as primeiras palavras. Agora que já sou pai há quase vinte e dois anos, reconstituindo em minha memória tantos momentos de então, vejo com grande clareza a importância, a grandeza e, diria mesmo a qualidade de sentimentos que ocupavas no coração da mãe. Relembrando esses momentos, é com grande emoção que sou obrigado a afirmar: Como a nossa mãe te amava, meu querido irmão!..
No passado Domingo, numa sessão de esclarecimento na minha Paróquia para que ninguém tivesse dúvidas quanto à posição da Igreja relativamente às questões a referendar amanhã, intervindo, agradeci a Deus e aos nossos pais por eu poder estar a falar aos presentes, dado que eu já era o 12º filho, tentando com isso refutar esse conceito tão puramente materialista, do não poder-se hoje ter mais do que um ou dois filhos, por não haver condições...
Que grande legado os nossos queridos pais nos deixaram, quando na sua escala de importância para nós, seu maior desejo sempre foi o de que fossemos bons. Hoje podemos entender quão grande pedagogo e psicólogo, chegando mesmo a brincar com a filosofia, foi nosso querido pai. Mais de vinte anos passados desde que nos deixou, ainda algumas vezes me ocorrem lágrimas pela tão grande saudade do seu ar brincalhão, da sua Sabedoria, do seu sorriso, enfim, do nosso tão amado pai. Bem que nos podemos sentir abençoados pelos pais que tivemos, e entre nós, sentirmos que foram uns pais modelo, segundo os parâmetros cristãos.
Desse grande legado ou riqueza que nos deixaram, faz parte a preocupação que temos uns pelos outros, que não é mais que o fruto do amor que vivemos. Aquelas situações em que nas férias, quando estamos juntos, dificilmente seguimos o que fora anteriormente planeado, porque um de nós ficou impossibilitado e tem que ir a outro lado, acabando por tudo ser modificado, só pode mesmo acontecer numa família como a nossa, porque, embora todos estejamos bem com a família que cada um constituiu, só nos sentimos completos tendo os irmãos connosco. E dado que há anos em que isso apenas é possível por três ou quatro dias, maior é a necessidade que temos uns dos outros, necessidade que passa por manifestações tão simples de amor, como sendo por vezes uma brincadeira ternurenta, o termos que “andar sempre aos beijinhos”, como por vezes dizem alguns cunhados, etc.
Depois de tudo isto, é legítimo que te perguntes do porquê de nem uma visita nem um telefonema, desde que no outro dia soube o que te tinha acontecido.
O telefonema, é para mim pouco válido para estas coisas, porque tenho necessidade de estar mesmo junto da pessoa. E depois também uma outra razão pela qual ainda não o fiz, foi por querer surpreender-te pessoalmente. Mas infelizmente, um dia é uma coisa, outro dia é outra, e o tempo tem passado, até que decidi pôr-me a escrever-te duas palavrinhas, para te dizer que muito te tenho envolvido de amor em oração, meu amado irmão. E ainda que ao mundo possa parecer o contrário, por não te ter ainda visitado, esse amor que nossos pais nos deixaram como herança e que eu procuro alimentar pela prática dos Sacramentos, tem um tal volume em mim, que, só enquanto escrevia este texto, fui obrigado a várias pausas para reparar os diques da emoção, por se revelarem demasiado fracos para suster a força do caudal do amor de irmão para irmão.
Que esta e a verdadeira força do Amor te envolvam, e que de lá do Céu, onde estou certo nossos pais nos estão a amar de uma forma bem diferente, recebas todos os dons necessários para só desejares o Amor.
Teu irmão que tanto te ama, ainda que de uma forma imperfeita,
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