quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

LÁGRIMAS DE MÃE

Certo dia fui ao Hospital de Amadora Sintra visitar uma doente. Ao entrar no quarto, dirigi uma palavra às que já tinha visto no dia anterior, bem como às que via pela primeira vez. Entre estas, encontrava-se uma jovem que iria naquela tarde ser operada. A curta conversação que entre nós se estabeleceu foi de certa forma a que o momento requeria.

Pouco tempo depois chega o marido e os seus olhos adquiriram outro brilho.

O tempo passou depressa e quando começo a dar uma palavrinha a cada doente porque estava para sair, verifico que aquela jovem estava com a cabeça voltada para o lado, de olhos fechados, levando-me a pensar que teria adormecido pela acção do soro. Ao passar junto dela detive-me um pouco, ao constatar que ela tentava era disfarçar algumas lágrimas.

Segurando-lhe a mão, tentei animá-la. E como resposta a algumas palavras minhas, negou que fosse o medo ou qualquer nervosismo, nem tão pouco o ter ficado sozinha depois de o marido se ter ausentado, a causa daquelas lágrimas. E explicou:

− É o meu mais pequeno, que tem hoje uma consulta, e tem que ser o meu marido a ir com ele. E à noite quando chegar a casa vai perguntar por mim...

Numa claríssima falta de tacto, tentava dizer-lhe que não era razão para estar assim; até que, assistido pelos olhos da alma, pude claramente compreender o que se passava no coração daquela jovem, anuindo ao seu sentimento:

− Compreendo. Então é pelo “simples” facto de ser Mãe.
Esfregando os olhos enquanto tentava recompor-se, respondeu, sorrindo:

− Pois é...

Ainda não me tinha despedido, quando chega um funcionário a dizer-lhe que estava na hora, que ia levá-la para o bloco operatório. Saí, e já no corredor, olho para trás e surpreendeu-me a serenidade dela, como se o funcionário estivesse a oferecer-lhe um chá...

Admirando aquela jovem, vi na sua compostura a confirmação de que não era qualquer medo ou receio da operação a origem daquelas lágrimas, eram de facto e apenas Lágrimas de Mãe.

Sem comentários: