segunda-feira, 30 de junho de 2008

Carta de um catequista a um seu catequizando

«Querido A…:

Que a Luz que recebeste no Baptismo se avive em teu coração depois de leres estas palavras, (…).

Poderá surpreender-te o facto de o teu catequista se dirigir a ti desta forma, quando se trata de alguém que acabaste de conhecer, com quem estiveste apenas durante seis horas − contabilizadas as tuas presenças nos encontros de catequese até ao momento. Mas passo já a explicar-te:

Eu não sou mais do que o simples portador de uma mensagem que não é minha, que te é dirigida, e se não fosse por meu intermédio, poderia até dizer-se expressa e directamente da vontade de Deus.

Eu sei que esta é uma linguagem que pode soar de forma estranha ao teu entendimento, mas como poderá Jesus, como poderão Deus Pai e o Espírito Santo vir a estabelecer contigo uma relação de amizade, capaz de te levar ao desejo das coisas do Alto e ao entendimento de tudo o que fica vedado a todos os que não criam intimidade com Deus, se neste momento estás disposto a deixar a catequese?

Meu querido A… Asseguro-te, baseando-me também em todas as coisas que já vivi, que, todo o sucesso, toda a realização pessoal, tal como hoje nos são apresentados, não passam de enormíssimas falsidades que, em vez de felicidade, quase sempre conduzem a pessoa a um sentimento de vazio, que por sua vez gera frustração. E quando há frustração, há revolta e por aí adiante. (…)

Repara bem, A…, que esse tal vazio, é hoje um fenómeno que atinge as pessoas de todas as camadas sociais, tanto ao pobre como ao rico. Não vemos nós, muitos casos de rapazes e de raparigas, de homens e de mulheres, que, aspirando ao casamento com a pessoa dos seus sonhos, a um bom emprego, a um estatuto social, a altos cargos, a riqueza, a ter filhos, depois de terem conseguido tudo isso ou até mais, passarem a frequentar as salas dos tribunais, os consultórios dos psicólogos e dos psiquiatras e a terem muitos outros problemas?

Por que será A…? Por que será que as pessoas são hoje indiferentes a tudo, inclinando-se assim para o egoísmo, e na questão dos sentimentos parecem distantes, frias, sendo esse o meio para que se tornem ásperas, agressivas nos modos, como se vê em tantos com quem convivemos diariamente e até em muitos que todos os dias vemos nas televisões? Apenas por uma razão fundamental: por estarem privadas dos benefícios que a actividade dos Dons do Espírito Santo em si lhes proporcionaria.

(...) Como já compreenderás neste momento, não é Deus quem priva alguém dos Seus dons, das Suas riquezas. É a pessoa que, ao escolher determinados caminhos, tomando determinadas opções, é ela mesma que se auto-exclui da Herança desse tesouro que é de uma grandeza, de um valor e de uma beleza que o entendimento humano não consegue abarcar, que é o regressarmos ao lugar onde a nossa alma já esteve quando foi criada pelo Pai, à alegria de passarmos a viver em definitivo junto de Deus.

Esse é o estado de felicidade plena, que só no Céu pode alcançar-se. No entanto, para se atingir Deus dessa forma, torna-se necessário e imprescindível que com Ele vivamos nesta vida, recolhidos sob o Seu tecto, que é a Santa Igreja, a única casa onde se encontra o alimento necessário para um crescimento saudável, forte e feliz.

Está bem, mas eu ainda tenho 13 anos, e acho que com isto tudo o catequista me está a falar de coisas que até nem fazem propriamente parte das preocupações da minha idade, pensarás tu. Se assim pensares, que acredito que seja o mais natural, caso contrário não me tinhas comunicado que ias deixar a catequese, estás a ser invadido pelos pensamentos mais insensatos, sempre responsáveis pelas erradas decisões.

(…) Que mais te posso dizer, meu A…?

Embora o texto já vá longo, permite-me partilhar um momento muito particular: ao acabar de escrever a frase anterior, relendo o que escrevi, os olhos ficaram-me molhados pelas lágrimas, pois, sendo o pensamento muito veloz, detive-me neste ponto: “meu A…”. E pensei: estou a dizer “meu A…” e ele já a ir-se embora… Não, vou corrigir esta parte, porque estive muito pouco tempo com ele para poder tratá-lo assim, e também não faz sentido eu dizer “meu” a alguém que já não é… E eis que de repente apercebo-me de uma coisa estranha: estou a chorar… É então que me sobreveio outro pensamento: quem escreveu fui eu, mas o autor foi Jesus, e se assim é, Ele tem toda a legitimidade para dizer: meu A… E quanto ao resto, dado que em minhas orações o que eu mais Lhe peço é que me faça Seu instrumento, utilizou-me para assim te falar, ao ponto de não excluir a minha sensibilidade, que procuro que seja o mais ajustada possível à d’Ele, (...).

E agora sim, para terminar, uma história:»

(Continua)

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