sábado, 19 de março de 2011

O estranho Tom, e o pedido que ele fez ao seu professor

Esta é uma história verídica, narrada por John Powell, S. J., professor de Teologia da Fé, na Loyola University Chicago, EUA.

«Um dia, há muitos anos atrás, eu estava de pé à porta da sala, esperando que meus alunos entrassem para o nosso primeiro dia de aulas do semestre. Foi aí que vi o Tom pela primeira vez. Não consegui evitar que meus olhos piscassem de espanto. Ele estava penteando seus cabelos longos e muito loiros que chegavam uns vinte centímetros abaixo dos ombros. Eu nunca vira um rapaz com cabelos tão longos. Acho que a moda estava apenas começando nessa época. Mesmo sabendo que o que importava não é o que está fora, mas o que vai dentro da cabeça, naquele dia eu fiquei um pouco chocado. Imediatamente classifiquei o Tom com um “E” de estranho… Muito estranho!

Tommy acabou por se revelar o “ateísta de serviço” do meu curso de Teologia da Fé. Constantemente, fazia objecções ou questionava sobre a possibilidade de existir um Deus-Pai que nos amasse incondicionalmente.

Convivemos em relativa paz durante o semestre, embora eu tenha que admitir que às vezes ele era bastante incómodo!

No fim do curso, ele aproximou-se e perguntou-me, num tom ligeiramente irónico: - O senhor acredita mesmo que eu possa encontrar Deus algum dia?

Resolvi usar uma terapia de choque: - Não, eu não acredito! – Respondi.

- Ah! Pensei que era este o produto que o senhor esteve tentando nos vender nos últimos meses. – Respondeu ele.

Eu deixei que ele se afastasse um pouco e falei, bem alto: - Eu não acredito que tu consigas encontrar Deus, mas tenho absoluta certeza que Ele te encontrará um dia.

Ele encolheu os ombros e foi embora das minhas aulas e da minha vida.

Algum tempo depois soube que o Tommy se tinha formado e, em seguida, recebi uma notícia triste:

Ele estava com um cancro em fase terminal. E antes que eu resolvesse se ia à sua procura, ele veio me ver.

Quando entrou na minha sala, percebi que o seu físico tinha sido devastado pela doença e que os cabelos longos não existiam mais, devido à quimioterapia. No entanto, seus olhos estavam brilhantes e sua voz era firme, bem diferente daquele garoto que conheci.

- Tommy, tenho pensado em ti, ouvi dizer que estás doente!

- Ah, é verdade, estou seriamente doente, tenho cancro nos dois pulmões. É uma questão de semanas, agora.

- Tu consegues falar normalmente sobre isso?

- Claro, o que o senhor gostaria de saber?

- Como é ter apenas vinte e quatro anos e saber que estás morrendo?

- Acho que podia ser pior.

- Como assim?

- Bem, eu poderia ter cinquenta anos e não ter noção de ideias, ou ter sessenta anos e pensar que bebida, mulheres e dinheiro são as coisas mais “importantes” da vida.

Lembrei-me da classificação que lhe atribuí: “E” de “estranho” (parece que as pessoas que recebem classificações desse tipo, são enviadas de volta por Deus para que eu possa repensar o assunto).

- Mas a razão pela qual realmente vim vê-lo foi a frase que o senhor me disse no último dia de aulas.

Continuou o Tom: - Eu lhe perguntei se o senhor acreditava que eu encontraria Deus algum dia, e o senhor respondeu “Não”, o que me surpreendeu. Em seguida o senhor disse: “mas Ele te encontrará”. Eu pensei um bocado a respeito daquela frase, embora na época não estivesse muito interessado no assunto. Mas quando os médicos removeram um nódulo da minha virilha e me disseram que se tratava de um tumor maligno, comecei a pensar com mais seriedade sobre a ideia de procurar Deus. E quando a doença se espalhou por outros órgãos, eu comecei realmente a dar murros desesperados nas portas de bronze do paraíso. Mas Deus não apareceu. De facto, nada aconteceu. O senhor já tentou fazer alguma coisa por um longo período sem sucesso? A gente fica cansada, desanimada. Um dia, ao invés de continuar atirando apelos por cima do muro alto atrás de onde Deus poderia estar… ou não… eu desisti, simplesmente. Decidi que de facto não estava me importando… com Deus, com uma possível vida eterna ou qualquer coisa parecida. E decidi utilizar o tempo que me restava fazendo alguma coisa mais proveitosa. Pensei no senhor e nas suas aulas e lembrei-me de uma coisa que o senhor havia dito noutra ocasião: “ A tristeza mais profunda, sem remédio, é passar pela vida sem amar. Mas é quase tão triste passar pela vida e deixar este mundo sem jamais ter dito às pessoas queridas, o quanto você as amou.” Então resolvi começar pela pessoa mais difícil: meu pai.

Ele estava a ler o jornal quando me aproximei dele: - Pai… - Sim, o que é? Perguntou ele, sem baixar o jornal. – Pai, eu gostava de conversar consigo. – Então fala. – É um assunto muito importante!

O jornal desceu alguns centímetros, vagarosamente. – O que é? – Pai, eu amo-o muito. Só queria que o pai soubesse disso.

O jornal escorregou para o chão e meu pai fez duas coisas que eu jamais havia visto: Ele chorou e abraçou-me com força. E conversámos durante toda a noite, embora ele tivesse que ir trabalhar na manhã seguinte. Foi tão bom poder sentar-me junto do meu pai, conversar, ver suas lágrimas, sentir seu abraço, ouvi-lo dizer que também me amava! Foi uma emoção indescritível!

Foi mais fácil com a minha mãe e com o meu irmão mais novo. Eles choraram também e nós nos abraçámos e dissemos coisas realmente boas uns para os outros. Falámos sobre as coisas que tínhamos mantido em segredo por tantos anos, e que era tão bom partilhar. Só lamentei uma coisa: que eu tivesse desperdiçado tanto tempo, privando-me de momentos tão especiais. Naquela hora eu estava apenas começando a abrir-me com as pessoas que amava.

Então, um dia, eu olhei, e lá estava “ELE”. Ele não veio ao meu encontro quando lhe implorei. Acredito que estava agindo como um domador de animais que, segurando um chicote, diz: -Vamos, pula! Eu dou-te três dias… Três semanas…

Parece que Deus não se deixa impressionar. Ele age a Seu modo e a Seu tempo. Mas o que importa é que Ele estava lá. Ele me encontrou… O senhor estava certo. Ele me encontrou mesmo depois de eu ter desistido de procurar por Ele.

- Tommy (disse eu bastante comovido), o que estás a dizer é muito mais importante e muito mais universal do que podes imaginar. Para mim, pelo menos, estás a dizer que a maneira certa de encontrar Deus, não é fazer d’Ele um bem pessoal, uma solução para os nossos problemas ou um consolo em tempos difíceis, mas sim tornando-se disponível para o verdadeiro Amor. O Apóstolo João disse isto: “Deus é amor e quem permanece no amor permanece em Deus, e Deus nele”.

Tom, posso pedir-te um favor? Tu sabes que me deste bastante trabalho quando foste meu aluno. Mas (aos risos) agora podes-me compensar por aquilo. Tu virias à minha aula de Teologia da Fé e contarias aos meus alunos o que acabaste de me contar? Se eu lhes contasse não seria a mesma coisa, não tocaria tão fundo neles!

- Oh!... Eu me preparei para vir vê-lo, mas não sei se estou preparado para enfrentar os seus alunos.

- Então pensa nisso. Se te sentires preparado, telefona-me.

Alguns dias mais tarde, Tom telefonou e disse que falaria com a minha turma. Ele queria fazer aquilo por Deus e por mim. Então marcámos uma data. Mas, o dia chego e… ele não pode ir. Ele tinha outro encontro, muito mais importante do que aquele. Ele se foi… Tom havia dado o grande passo para a verdadeira realidade.

Ele foi ao encontro de uma nova vida e de novos desafios.

Antes de ele morrer, ainda conversámos uma vez.

– Não vou ter condições de falar com a sua turma – disse ele.

Respondi: - Eu sei, Tom.

- O senhor falaria com eles por mim? O senhor falaria… com todo o mundo por mim?

- Vou falar, Tom. Vou falar com todo o mundo. Vou fazer o melhor que puder.

Portanto, a todos vós que fostes pacientes, lendo esta declaração de amor tão sincero, obrigado por fazê-lo.

Em homenagem ao Tommy, ai está:

Eu falei com todo o mundo… Do melhor modo que consegui. E espero que as pessoas que tiveram conhecimento desta história, possam contá-la aos seus amigos, para que mais gente possa conhecê-la…»

“Não digas para Deus que tu tens um grande problema, diz para o teu problema que tu tens um grande Deus.”

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