Para reflexão
Um dos clientes do café da D. Maria, sempre que é
interpelado por alguém dos presentes e o momento é favorável, aproveita para ir
esclarecendo os seus interlocutores quanto às questões da fé ou da religião. Procurou
ele interessar-se que a Anaísa e o Mário, netos da D. Maria, passassem a
frequentar a catequese, e quando já esta tinha começado havia algumas semanas e
eles continuavam sem a frequentar, estando os dois para iniciar esse
itinerário, empenhou-se nesse sentido. Havia porém uma questão importante a
considerar quanto ao Mário, sendo a dedicada avó aconselhada a apresentar
pessoalmente essa questão ao Pároco. Quando foi à igreja, acompanhada pela D.
Rosa, que muito viria a admirar-se pela mudança que nela constatou, foi
recebida pelo seu cliente, que ali é catequista, apresentando-a ao Pároco, por
também ele ter sido aconselhado nesse sentido.
Depois disso, quando o catequista voltou a estar no
café, a D. Maria não sabia como manifestar tanto agrado. Havia muitos anos que
se mantinha afastada da Igreja, e este contacto, mais pela forma como foi
acolhida pelo Pároco, deixou nela o espaço aberto ao regresso, tanto que, disse
que passaria a ir à Missa todos os Domingos, coisa que até então dizia não
poder por causa do café…
Alguns dias antes, a Anaísa e o Mário tiveram mais um
mano. Para a extremosa avó, já esse facto fora uma grande bênção, o que também
deve ter contribuído para o resultado do bem-estar interior alcançado com a ida
à igreja.
Dois ou três dias depois, viajavam felizes os dois
pequenos catequizandos com os avós e, quando, na A-15, um condutor entendeu
deixar a faixa mais à direita no momento em que outro veículo estava a passar
por ele, deu-se o acidente.
Mobilizados os meios necessários para o local, quando o
condutor do reboque chegou perguntou aos agentes da BT se a ambulância já tinha
levado os mortos, não porque tivesse conhecimento do tipo de vítimas que
resultaram do acidente, mas pelo que deduziu depois de verificar em que estado
ficou o carro em que seguiam aquelas crianças e seus avós.
Foi um estranho acidente, como estranho foi o seu
resultado. A avó dos meninos, que era quem conduzia, depois de muitos anos a
falar mal dos padres, até ia a cantarolar, coisa que os netos nunca tinham ouvido,
e cantava um cântico a Nossa Senhora…
Mesmo ficando o café a duas ou três centenas de metros
da igreja, nunca a D. Maria lá tinha entrado, e como dissera ao cliente, mal
transpôs a porta da entrada, gostou muito do que viu, pois, sendo uma igreja
nova, estava muito ao seu gosto. Tudo a impressionou muito positivamente, até o
simples gesto do catequista, o de ajoelhar quando passava diante do sacrário…
Algum tempo antes do acidente, ainda antes de o bebé
ter nascido, na improvisada sala de catequese que foi o café, lá esteve o
cliente a ser catequista, falando-lhe dos Anjos-da-guarda e da sua solícita e
amorosa missão.
Porque não valerá a pena continuar com qualquer
consideração, remeto o leitor para as palavras com que Jesus encerrou vários
dos seus ensinamentos: «Quem tem ouvidos, oiça!» Sim, porque os mortos a que se
referia o condutor do reboque, não existiram naquele acidente, do qual todos
saíram sem um único arranhão…
SANTOS, José Augusto, Para
reflexão, in Notícias de Chaves, Nº. 3000, p.10 (5-12-2008)
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