https://www.youtube.com/watch?v=SNN1xzAuGMI
(Link para assistir à entrevista em francês e legendada em espanhol)
"Levar a Deus todas as almas que seja possível".
O padre Michel Marie Zanotti Sorkine tomou esta frase a sério, e é
o seu principal objectivo como sacerdote. É o que está a fazer depois
de ter transformado uma igreja a ponto de fechar e de ser demolida na
paróquia com mais vida de Marselha. O mérito é ainda maior dado que o templo
está no bairro com uma enorme presença de muçulmanos, numa cidade em
que menos de 1% da população é católica praticante.
Foi um músico de sucesso
A chave para este sacerdote que antes
foi músico de êxito em cabarés de Paris e Montecarlo é a
"presença", tornar Deus presente no mundo de hoje. As portas da
sua igreja estão abertas de par em par o dia inteiro e veste de batina
porque "todos, cristãos ou não, têm direito a ver um sacerdote fora da
igreja".
Na Missa: de 50 a 700 assistentes
O balanço é impressionante. Quando em 2004
chegou à paróquia de S. Vicente de Paulo no centro de Marselha, a igreja
estava fechada durante a semana e a única missa dominical era celebrada na
cripta para apenas 50 pessoas. Segundo
o que conta, a primeira coisa que fez foi abrir a igreja todos os dias e
celebrar no altar-mor. Agora a igreja fica aberta quase todo o dia e
é preciso ir buscar cadeiras para receber todos os fiéis. Mais de 700 todos os
domingos, e mais ainda nas grandes festas. Converteu-se num fenómeno de
massas, não só em Marselha mas em toda a França, com reportagens nos meios
de comunicação de todo o país, atraídos pela quantidade de conversões.
Um novo 'cura de Ars' numa Marselha agnóstica
Uma das iniciativas principais do padre Zanotti
Sorkine para revitalizar a fé da paróquia e conseguir a
afluência de pessoas de todas as idades e condições sociais é a
confissão. Antes da abertura do templo às 8h00 da manhã já há gente à
espera à porta para poder receber este sacramento ou para pedir conselho a
este sacerdote francês.
Os fregueses contam que o padre Michel Marie está boa parte
do dia no confessionário, muitas vezes até depois das onze da noite. E se não
está lá, anda pelos corredores ou na sacristia consciente da necessidade de
que os padres estejam
sempre visíveis e próximos, para ir em ajuda de todo aquele que precisa.
A igreja sempre aberta
Outra das suas originalidades mais
características é a de ter a igreja permanentemente aberta. Isto gerou críticas
doutros padres da diocese mas ele assegura que a missão da paróquia é
"permitir e facilitar o encontro do homem com Deus" e o
padre não pode ser um obstáculo para que isso aconteça.
O templo deve favorecer a relação com Deus
Numa entrevista a uma televisão disse estar
convencido de que "se hoje em dia a igreja não está aberta é porque
de certa maneira não temos nada a propor, que tudo o que oferecemos já acabou. No nosso caso, em que a igreja está
aberta todo o dia, há gente que vem, há gente que reza. Praticamente nunca
tivemos roubos, e garanto que a igreja se transforma num instrumento
extraordinário que favorece o encontro entre a alma e Deus".
Foi a última oportunidade para salvar a paróquia
O bispo mandou-o para esta paróquia como último
recurso para a salvar, e fê-lo de modo literal quando lhe disse que abrisse as
portas. "Há cinco portas sempre abertas e todo o mundo pode ver a
beleza da casa de Deus". 90.000 carros e milhares de transeuntes
passam e vêem a igreja aberta e com os padres à vista. Este é o seu
método: a presença de Deus e da sua gente no mundo secularizado.
A importância da liturgia e da limpeza
E aqui está outro ponto-chave para este
sacerdote. Assim que tomou posse, com a ajuda de um grupo de
leigos renovou a paróquia, limpou-a e deixou-a resplandecente. Para
ele este é outro motivo que levou as pessoas a voltarem à igreja: "Como é
que podemos querer que as pessoas acreditem que Cristo vive num lugar se esse
lugar não estiver impecável? É impossível."
Por isso, as toalhas do altar e do sacrário têm
um branco imaculado. "É o pormenor que faz a diferença. Com o trabalho bem
feito damos conta do amor que manifestamos às pessoas e às coisas". De
maneira taxativa assegura que "estou convicto que quando se entra numa
igreja onde não está tudo impecável é impossível acreditar na presença gloriosa
de Jesus".
A liturgia torna-se o ponto central do seu
ministério e muitas pessoas sentiram-se atraídas a esta igreja
pela riqueza da Eucaristia. "Esta é a beleza que conduz a Deus",
afirma.
As missas estão sempre cheias e incluem
procissões solenes, incenso, cânticos bem cantados... Tudo ao
detalhe. "Tenho um cuidado especial com a celebração da Missa
para mostrar o significado do sacrifício eucarístico e a realidade da
sua Presença". "A vida espiritual não
é concebível sem a adoração do Santíssimo Sacramento e sem um ardente amor a
Maria", por isso introduziu a adoração e o terço diário, rezado
por estudantes e jovens.
Os sermões são também muito aguardados e,
inclusive, os paroquianos põem-nos online. Há sempre uma referência à
conversão, para a salvação do homem. Na sua opinião, a
falta desta mensagem na Igreja de hoje "é talvez uma das principais causas
de indiferença religiosa que vivemos no mundo contemporâneo". Acima
de tudo, clareza na mensagem evangélica. Por isso previne quanto à
frase tão gasta de que "vamos todos para o céu". Para ele esta é
uma "música que nos pode enganar", pois é preciso lutar, a começar
pelo padre, para chegar até ao Paraíso.
O padre da batina
Se alguma coisa distingue este sacerdote alto
num bairro de maioria muçulmana é a batina, que veste sempre, e o terço nas
mãos. Para ele é primordial que o padre seja visto pelas pessoas. "Todos
os homens, a começar por aquela pessoa que entra numa igreja, tem direito de se
encontrar com um sacerdote. O serviço que oferecemos é tão essencial para
a salvação, que, o ver-nos deve ser tangível e eficaz para permitir
esse encontro".
Deste modo, para o padre Michel o sacerdote é
sacerdote 24 horas por dia. "O serviço deve ser permanente. Que
pensaríamos de um marido que a caminho do escritório de manhã tirasse a aliança?".
Neste aspecto é muito insistente: "quanto àqueles que dizem que o traje cria
uma distância é porque não conhecem o coração dos pobres para quem o que
se vê diz mais do que o que se diz".
Por último, lembra um pormenor relevante. Os
regimes comunistas, a primeira coisa que faziam era eliminar o traje
eclesiástico sabendo a importância que tem para a comunicação da fé.
"Isto deve fazer pensar a Igreja de França", acrescenta.
No entanto, a sua missão não se realiza apenas
no interior do templo.
É uma personalidade conhecida em todo o bairro,
também pelos muçulmanos. Toma o pequeno-almoço nos cafés do bairro, aí
conversa com os fiéis e com pessoas que não praticam. Ele chama a
isso a sua pequena capela. Assim conseguiu já que muitos vizinhos sejam agora
assíduos da paróquia, e tenham convertido esta igreja de São Vicente de Paulo
numa paróquia totalmente ressuscitada.
Uma vida peculiar: cantor em cabarés
A vida do padre Michel Marie foi agitada.
Nasceu em 1959 e tem origem russa, italiana e da Córsega. Aos 13 anos
perdeu a mãe, o que lhe causou uma "fractura devastadora" que o
levou a unir-se ainda mais a Nossa Senhora.
Com um grande talento musical, apagou a perda
da mãe com a música. Em 1977 depois de ter sido convidado a tocar no café Paris
de Montecarlo mudou-se para a capital onde começou a sua carreira de
compositor e cantor em cabarés. No entanto, o apelo de Deus foi mais forte e em
1988 entrou na ordem dominicana por devoção a S. Domingos. Esteve com eles
quatro anos, e perante o fascínio por S. Maximiliano Kolbe passou pela ordem
franciscana, onde permaneceu quatro anos.
Foi em 1999 quando foi ordenado sacerdote para a diocese de
Marselha com quase quarenta anos. Além da música, que agora dedica a Deus,
também é escritor de êxito, tendo já publicado seis livros, e ainda poeta.
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